África do Sul abre a Copa mais improvável e emocionante da história
País diz ter superado desafios e incertezas, e povo mostra nas ruas orgulho por ser o centro do mundo
Por Antoine Morel, do R7, em Johannesburgo, e Fernando Cesarotti, em São Paulo
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Por Jewel Samad/AFP Jacob Zuma cumprimenta os fãs no show de abertura: para ele, a Copa é uma festa de toda a África
Depois de muita expectativa, começa finalmente a Copa do Mundo da África do Sul. Quando a seleção da casa e o México iniciarem o primeiro jogo, às 11h (de Brasília) desta sexta-feira (11), o mundo todo poderá ver em prática o esforço feito pelos sul-africanos para tornar viável o que boa parte do mundo considerava impossível.

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O orgulho e a esperança são vistos claramente nas ruas do país. O primeiro item empolga os moradores locais, que tentam mostrar a todos os visitantes como o país é bonito e alegre depois de quase 20 anos do fim do apartheid.

A esperança também tem a ver com o fim da segregação racial. O futebol sempre foi o esporte dos negros sul-africanos. Com a Copa, brancos – que têm sua preferência no rúgbi e no críquete – se empolgam na torcida pelos Bafana Bafana, como a seleção local é conhecida. Desta forma, a África do Sul tenta achar um ponto de comunhão entre os dois povos.

Mesmo assim, o Mundial tem itens que podem torná-lo um dos piores da história. Os problemas de segurança ainda preocupam. A polícia tem um efetivo gigantesco perto das áreas dos jogos. O trânsito também é um fator alarmante nas grandes cidades. Filas de carros e poucos transportes públicos serão resolvidos com ônibus da Fifa e muitos estacionamentos. O trem-bala, como também é prometido no Brasil para 2014, ficou pronto com apenas quatro estações das 10 previstas a três dias do início dos jogos.

Os sul-africanos sabem desta condição e tentam compensar com alegria, das vuvuzelas à Shosholoza (música-tema da torcida local). Todos se empolgam ao perguntar se um turista está se sentindo bem na África. E também não há ninguém nas ruas de Johannesburgo – principal cidade da Copa – que deixe de prestar ajuda ou esclarecimentos aos visitantes.

Por isso, o presidente do país, Jacob Zuma, ovacionado na cerimônia de abertura desta quinta-feira (10), agradeceu ao povo local, a maioria na festa.

- Queria agradecer aos sul-africanos por receber os turistas tão calorosamente. Essa Copa é da África, não só da África do Sul.

O discurso bate com a postura de mostrar ao mundo a pluralidade étnica do continente. Na África do Sul, há 11 línguas oficiais (nove delas de tribos) e todos tentam conviver harmoniosamente nesta época de Mundial.

Desconfiança

A África do Sul ganhou em 2004 o direito de sediar a Copa do Mundo, mas o desejo vinha de muitos anos antes. Em 2000, os sul-africanos eram favoritos à vitória na eleição da sede da Copa de 2006, mas perderam por 12 a 11 numa polêmica disputa com a Alemanha.

Num colégio eleitoral com 24 votos, a disputa provavelmente terminaria empatada e Joseph Blatter, presidente da Fifa e apoiador declarado da campanha da África do Sul, daria o voto de Minerva em favor deles. Mas o neozelandês Charlie Dempsey, que representava a Oceania e deveria ter votado na África do Sul, se absteve e definiu a eleição em favor dos alemães.

Depois disso, a Fifa criou um rodízio de continentes, e definiu que a Copa de 2010 seria em solo africano. Marrocos e Egito também se candidataram, mas a África do Sul levou a melhor logo na primeira rodada da eleição, com 14 votos, contra 10 dos marroquinos e nenhum dos egípcios.

Vencida a eleição, começou o desafio de preparar o país para o Mundial. Foram seis anos de trabalho duro, polêmicas, orçamentos inflacionados e várias greves feitas por operários responsáveis por construção e reformas dos estádios. O alemão Franz Beckenbauer, campeão mundial como jogador (1974) e técnico (1970) e chefe da organização da Copa de 2006, chegou a duvidar publicamente da capacidade da África do Sul de organizar a competição.

Nesse período, Blatter adotou uma política “morde e assopra”: ao mesmo tempo em que cobrava os organizadores para evitar atrasos nas obras de estádios e infraestrutura, sempre manifestou publicamente sua confiança de que a África do Sul seria capaz de organizar uma excelente Copa do Mundo.

A resposta será dada a partir desta sexta-feira (11), às 11h (de Brasília), quando África do Sul e México iniciarem o primeiro dos 64 jogos previstos, no Soccer City, em Johannesburgo. Mas, no que depender do ânimo dos sul-africanos, essa partida já tem vencedor. De goleada.

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