Crise de reféns na Argélia não acabou, diz Grã-Bretanha

Ação de tropas da Argélia para libertar reféns de terroristas terminou, segundo agência. Número de mortos é incerto e há dezenas de civis desaparecidos

Campo de exploração de gás em In Amenas, Argélia
Campo de exploração de gás em In Amenas, Argélia (Kjetil Alsvik/AFP)
O sequestro de empregados de um campo de exploração de gás no deserto da Argélia organizado por militantes islâmicos há dois dias ainda não terminou, afirmou nesta sexta-feira o Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha. A declaração ocorre após o Exército argelino condizir uma operação para libertar os reféns, muitos deles estrangeiros – a operação foi encerrada, segundo a agência estatal da Argélia (APS), mas a falta de detalhes sobre o resultado da ação alimenta a especulação internacional de que a tentativa de libertar os sequestrados tenha sido um desastre.    

Ministério das Relações Exteriores britânico disse que o "incidente terrorista" na central de gás em In Amenas, perto da fronteira com a Líbia, ainda está "em curso". "É uma situação fluida, mas devemos estar preparados para a possibilidade de más notícias", declarou o premiê David Cameron. A agência estatal argelina veiculou que quatro reféns e vários extremistas foram mortos quando soldados apoiados por helicópteros tentaram por fim ao sequestro na tarde desta quinta-feira.
Mas os relatos sobre as baixas civis são contraditórios. A agência Reuters,citando uma fonte não identificada da segurança argelina, afirmou que 30 reféns morreram, dos quais sete estrangeiros. A agência também afirmou que 11 terroristas morreram. Os militantes alegavam estar mantendo como reféns 41 estrangeiros, entre eles noruegueses, americanos, franceses, britânicos e japoneses. Pelo menos quatro foram libertados de acordo com a rede BBC, mas o destino de dezenas de outros é desconhecido.

Desaparecidos – Fontes do governo britânico disseram que não conseguiram localizar cerca de 20 cidadãos do país. O Japão, por sua vez, afirma que pelo menos 14 japoneses ainda estão desaparecidos –  ao menos três conseguiram escapar. O ministério japonês das Relações Exteriores convocou nesta sexta-feira o embaixador argelino em Tóquio, Sid Ali Ketrandjé, para dar esclarecimentos sobre a operação no campo de exploração de gás, anunciou um funcionário da diplomacia japonesa.
Na madrugada desta sexta-feira, a petrolífera norueguesa Statoil, que controla a central de gás junto com British Petroleum (BP), e a argelina Sonatrach,  anunciou o resgate de um de seus empregados. Agora, nove dos 17 trabalhadores da empresa estão a salvo, após o ataque de um grupo de fundamentalistas islâmicos.
"A situação dos oito empregados restantes é incerta", assinalou a Statoil em comunicado, no qual destaca que o trabalhador resgatado durante a noite "está recebendo tratamento médico no hospital de InAmenas". Na nota, a empresa informa que "outros três colegas argelinos que foram postos a salvo na noite passada foram transferidos à capital, Argel".
O comunicado aponta ainda que um primeiro avião procedente da Argélia aterrissou ontem à noite em Londres com 22 empregados da Statoil. Outras duas aeronaves com 18 funcionários da companhia pousaram também à noite no aeroporto espanhol de Palma de Mallorca. Um quarto avião voará hoje à Argélia para repatriar mais empregados da Statoil e de outras companhias que se encontram no país norte-africano.
O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, admitiu que a situação na fábrica de exploração de gás é "muito confusa" e disse desconhecer quantos noruegueses estavam vivos. "Não temos nenhuma informação confirmada sobre o que ocorreu com os noruegueses", disse em entrevista coletiva, antes de ressaltar que há "muitas e contraditórias informações".
O caso – A crise teve início nesta quarta, quando militantes islâmicos fizeram reféns no campo operado por uma joint venture que inclui British Petroleum (BP), a Statoil, da Noruega, e a Sonatrach, estatal argelina. O grupo terrorista afirmou que o ataque é uma retaliação à intervenção militar francesa no Mali.

O presidente francês, François Hollande, considerou que a situação na Argélia justifica ainda mais a decisão de seu governo de intervir militarmente no território malinês. Hollande acrescentou que não tem "elementos suficientes para avaliar" o que ocorre no campo de gás, mesmo recebendo regularmente informações a respeito. Segundo ele, a situação "parece estar se desenvolvendo em condições dramáticas".
A milícia islâmica responsável pelo ataque é o Grupo Salafista para a Pregação e Combate (GSPC), que nasceu há pouco tempo a partir da Al Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI). Segundo o governo argelino, todos os terroristas são subordinados a um ex-comandante da Al Qaeda no Magreb Islâmico, Mokhtar Belmokthar, que teria fundado a nova milícia no fim do ano passado após ter se desentendido com outros líderes extremistas.

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