Pandemia silencia a festa mais popular do planeta

 Pandemia silencia a festa mais popular do planeta

Em tempos normais, Salvador amanheceria, nesta quinta-feira, 11, em clima absoluto de carnaval. A cidade, a partir de hoje, estaria sob o comando do Rei Momo, enquanto os abadás seriam as peças de roupa mais usadas nos próximos dias. No entanto, diante da pandemia da Covid-19, o cenário visto é bem diferente. Atualmente, são as máscaras de proteção que ditam as vestes, enquanto os circuitos da folia não recebem trios ou as estruturas dos camarotes, tão característicos neste período.

Na Barra, os tapumes que impedem o acesso à praia em alguns pontos, nada lembram o circuito Dodô, que recebe milhares de pessoas nos dias de folia. O mesmo acontece no circuito Osmar, no Campo Grande, que é o mais tradicional da festa momesca e não contará com o desfile dos trios em fevereiro. Além do circuito Batatinha, no Centro Histórico, que é marcado pelos clássicos blocos afoxé.

Na Barra, os tapumes bloqueiam o acesso à praia | Foto: Adilton Venegeroles | Ag. A TARDE

O Ilê Aiyê, por exemplo, mais antigo bloco afro do Carnaval de Salvador, é um dos que deixará saudade. Sem a previsão de realizar nenhum evento neste momento, como lives em redes sociais, em função do alto custo, a expectativa é de que os desfiles do bloco fiquem na memória dos foliões.

“A essa altura, já teríamos entregado nossas fantasias, já teríamos feito a escolha da Deusa do Ébano. É triste, todos estão lamentando a falta do carnaval, tanto o Ilê, como outros blocos. Não estaremos fazendo nada, até porque uma live tem custo alto. Acho que o governo e a prefeitura poderiam estar incentivando alguns segmentos para mostrar um pouco. Mas é algo que ficará apenas entre os artistas que conseguiram patrocínio. De resto, ficaremos apenas na lembrança”, afirmou Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê.

Quem também não marcará presença em Salvador nesse período são os trios elétricos, que são peças essenciais da festa momesca. Diferente do que é esperado em uma quinta de carnaval, eles ficarão apenas na memória dos foliões neste ano. Ao invés de estarem arrastando multidões, seguirão guardados em galpões, esperando uma definição sobre a festa, se ocorrerá ainda neste ano ou apenas em 2022.

“Era dia de estarmos saindo com os trios decorados do parque, para se posicionar no circuito. Eu enxergo a quinta-feira de hoje como se fosse um filme em preto e branco, enquanto nossa quinta de carnaval é um filme colorido, alegre. O sentimento que temos é de frustração e tristeza”, lamentou Beto Ramos, business de trio elétrico.

Segundo o empresário, que disponibiliza trios para o bloco ‘As Muquiranas’ e para artistas como Ivete Sangalo, é muito estranho ver os veículos parados nos galpões. No entanto, ele entende que é necessário, em função do cenário de pandemia. Ele ressalta, inclusive, que acredita ser muito difícil a realização da festa em julho.

“Costuma ser um período de muito trabalho, então o sentimento é de vazio, não dá para explicar. Faço isso há 33 anos consecutivos e, do nada, para. Hoje, os trios estão no galpão, parados, nem de longe é o que estamos acostumados a ver. Quando falamos em trio, remetemos a aglomeração e alegria”, lembra.

Já para Geraldinho Adinho, proprietário dos trios RG, lidar com a não realização do carnaval é terrível, sobretudo, em função das famílias que dependem do setor para trabalhar. Ele se recorda ainda que hoje seria dia dos trios serem vistoriados e, posteriormente, aguardar o momento de desfilar nos circuitos.

“Nossos trios estariam sendo vistoriados no Parque de Exposições, para que pudessem ir para a avenida. Após a vistoria, nós esperamos a indicação para levá-los até os respectivos circuitos, é algo que depende de cada bloco”, explica.

O empresário acredita que, mesmo que a festa ocorra em outra data de 2021, será algo reduzido. “Fica inviável, a esperança é a vacina. Esperança eu tenho, esperar que consigamos vacinar, para que seja liberado. Mas diante dos problemas que estamos vendo, acho difícil”.

Momo

A quinta-feira seria, ainda, de entrega das chaves ao Rei Momo, marcando o início do Carnaval. De acordo com o coordenador do concurso de Momo, Reginaldo Santos, não realizar o ato de entrega da chave faz uma falta muito grande. No entanto, ele entende que só será possível repetir esse momento após a população ser vacinada, garantindo a segurança da festa.

“Hoje estaríamos realizando a entrega das chaves. Ver uma quinta de carnaval, sem esse momento é doloroso, muito triste, por tudo que o carnaval representa para a sociedade, para a economia e para a cidade, de modo geral. Entendemos o momento, mas não podemos dizer que ficamos felizes ou satisfeitos”.

A Tarde

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