Geddel e os R$ 51 milhões, venda de sentenças e respiradores: veja operações policiais nos últimos 10 anos na Bahia

Juízes da Bahia suspeitos de envolvimento em esquema de grilagem foram presos na Operação Faroeste — Foto: Reprodução/TV Bahia

Em 10 anos, o G1 Bahia mostrou passos de grandes operações policiais que surpreenderam a população no estado e também no país.

Mais de um bilhão de acessos e 80 mil publicações em uma década, entre elas casos que tiveram grande repercussão. Veja abaixo:

Geddel e os R$ 51 milhões em malas

PF vê indícios de lavagem de dinheiro no caso de Geddel e malas de dinheiro

PF vê indícios de lavagem de dinheiro no caso de Geddel e malas de dinheiro

Em 2017, durante a operação Tesouro Perdido, a Polícia Federal encontrou R$ 51 milhões em malas, em um apartamento associado a Geddel Vieira Lima, no bairro da Graça, na capital baiana. À época, o ex-ministro dos governos Lula e Temer já estava preso, por obstrução das investigações da Operação Cui Bono, que apurava fraudes na liberação de crédito da Caixa Econômica Federal.

Segundo as investigações, havia indícios de que a família usava empresas para lavar dinheiro ilícito obtido por meio de desvio de recursos públicos. No ano seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) apresentou denúncia contra Geddel Vieira Lima, Lúcio Vieira Lima, e a mãe deles, Marluce Quadros Vieira Lima.

As acusações contra Geddel e Lúcio foram julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque, à época, Lúcio ainda tinha mandato como deputado federal. Em outubro de 2019, a Corte condenou Geddel a 14 anos de prisão e o irmão, a dez anos de reclusão, por conta do caso.Já Marluce Quadros Vieira Lima foi condenada pela Justiça Federal, a dez anos de reclusão, em fevereiro de 2021, pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Em julho de 2020, Geddel conseguiu liminar para cumprir a sentença em prisão domiciliar e deixou o presídio de Salvador.

Venda de sentençasJuízes da Bahia suspeitos de envolvimento em esquema de grilagem foram presos na Operação Faroeste — Foto: Reprodução/TV Bahia

Juízes da Bahia suspeitos de envolvimento em esquema de grilagem foram presos na Operação Faroeste — Foto: Reprodução/TV Bahia

Uma operação que até hoje tem desdobramentos. A primeira fase da operação Faroeste ocorreu em novembro de 2019, com a prisão de quatro advogados, o cumprimento de 40 mandados de busca e apreensão e o afastamento dos seis magistrados por suposto esquema de venda de decisões judiciais. Outra desembargadora do TJ-BA, Maria do Socorro Barreto Santiago, foi presa no mesmo mês e segue detida.

O esquema, segundo a denúncia, consistia na legalização de terras griladas no oeste do estado. A organização criminosa investigada contava ainda com laranjas e empresas para dissimular os benefícios obtidos ilicitamente.

Há suspeitas de que a área objeto de grilagem supere os 360 mil hectares e de que o grupo envolvido na dinâmica ilícita tenha movimentado cifras bilionárias.

De lá para cá, a Operação Faroeste ganhou muitos capítulos e personagens surpreendentes. As desembargadoras, Lígia Maria Ramos Cunha Lima e Ilona Márcia Reis, e até o ex-secretário de Segurança Pública (SSP) da Bahia, Maurício Barbosa, e a delegada chefe de gabinete da pasta, Gabriela Caldas Rosa de Macêdo, que deixaram os cargos após virarem alvos.A possível participação da ex-cantora da banda Timbalada, Amanda Santiago, filha da desembargadora Maria do Socorro Barreto Santiago, também causou espanto de fãs. As investigações apontaram que a artista apresentou movimentação financeira de mais de R$ 8 milhões no período analisado pelas autoridades, apesar de declarar R$ 1 mil em renda neste mesmo tempo.

No dia 17 de março de 2021, quarta-feira, a Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça julgou os agravos da revogação da prisão preventiva de seis pessoas: advogada Geciane Maturino e do empresário Adailton Maturino, a desembargadora do TJBA Maria do Socorro, o juiz Sérgio Humberto, o ex-assessor de gabinete do TJBA Antônio Roque e o advogado Márcio Duarte. As prisões foram mantidas pelo STJ.

Respiradores comprados, mas não entreguesPiauí recebe mais 20 respiradores para leitos de UTI — Foto: Divulgação/CCOM

Piauí recebe mais 20 respiradores para leitos de UTI — Foto: Divulgação/CCOM

A Bahia tinha 18.898 casos confirmados de pacientes infectados pela Covid-19 e 701 mortes quando a empresa Hempcare foi alvo da operação Ragnarok, no início de de junho de 2020, após vender os respiradores por R$ 48,7 milhões. A empresa não entregou os equipamentos, nem devolveu o dinheiro. Outra empresa, a Biogeoenergy também é alvo de investigação.

Os donos da Hempcare, Cristiana Prestes, e Luiz Henrique Ramos, além do diretor da Biogeoenergy, Paulo de Tarso Carlos, chegaram a ser presos, mas foram soltos após cumprirem prisão temporária de cinco dias.A polícia informou que o grupo alvo da ação é especializado em estelionato, através de fraude na venda de equipamentos hospitalares. A empresa alvo da ação se apresentava como revendedor dos produtos.

No Diário Oficial do Estado da Bahia,representando o Consórcio Nordeste, o governador do estado, Rui Costa instaurou processo administrativo com a finalidade de apurar irregularidades praticadas pela empresa Hempcare, com sede em São Paulo. Entretanto, segundo o governo da Bahia, até hoje, nem sinal do dinheiro.

Irregularidades na Arena Fonte NovaObra, segundo laudo da PF, foi superfaturada em valores que, corrigidos, podem chegar a mais de R$ 450 milhões — Foto: Divulgação / Sesab

Obra, segundo laudo da PF, foi superfaturada em valores que, corrigidos, podem chegar a mais de R$ 450 milhões — Foto: Divulgação / Sesab

Em fevereiro de 2018, uma equipe da Polícia Federal fez buscas no apartamento do ex-governador da Bahia e atual senador, Jaques Wagner (PT), no Corredor da Vitória, em Salvador. A ação fez parte da Operação Cartão Vermelho, que apurava irregularidades na contratação dos serviços de demolição, reconstrução e gestão da Arena Fonte Nova, em Salvador. No total, foram cumpridos pela PF sete mandados de busca e apreensão.

A obra, segundo laudo da PF, foi superfaturada em valores que, corrigidos, podem chegar a mais de R$ 450 milhões, e grande parte teria sido desviada para o pagamento de propina e o financiamento de campanhas eleitorais.

A investigação apontou fraude em licitação, superfaturamento, desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro. Conforme apurado, a licitação que culminou com a Parceria Público-Privada (PPP) foi direcionada para beneficiar o consórcio Fonte Nova Participações (FNP), formado pelas empresas Odebrecht e OAS.Jaques Wagner foi indiciado pela Polícia Federal por suspeita de ter recebido R$ 82 milhões em propina do consórcio responsável pela construção da Arena Fonte Nova. Na época, Wagner disse que as denúncias da PF eram infundadas e que nunca recebeu propina.

Tesouro dourado encontrado na ilhaFotos da ilha na Baía de Todos os Santos que foi um dos alvos da operação.  — Foto: Divulgação/Receita Federal

Fotos da ilha na Baía de Todos os Santos que foi um dos alvos da operação. — Foto: Divulgação/Receita Federal

Uma ilha foi confiscada na Baía de Todos-os-Santos, em Salvador, durante a Operação Alquimia, em 2011, e terminou com sete pessoas presas e um tesouro encontrado: barras de ouro e prata em um cofre. Ao todo, segundo balanço da Polícia Federal (PF) em Minas Gerais, 18 pessoas foram presas na operação realizada em 17 estados e no Distrito Federal.

A ilha, de 20 mil metros quadrados, pertenceria a um dos responsáveis pela organização criminosa. Além disso, foram apreendidos oito jet skis, duas armas, quadriciclo, barco à vela, além de motos e carros de luxo.

As sete pessoas detidas na Bahia faziam parte da diretoria de 100 empresas, que atuavam no ramo de distribuição e comercialização de produtos químicos, mas também tinham negócios com transportes em diversos estados do país e no exterior. As investigações apontaram que o esquema fraudulento foi iniciado em 2002 e já contava com 70 filiais.

Ataques racistas a Taís Araújo e MajuAtriz e jornalista foram alvo de comentários racistas em 2015 — Foto: Montagem / G1

Atriz e jornalista foram alvo de comentários racistas em 2015 — Foto: Montagem / G1

Em março de 2016, Tiago Zanfolim Santos foi preso, em Brumado, suspeito de integrar uma quadrilha investigada por crimes de informática, injúria racial e invasão de dispositivo. O grupo era investigado após as investigações apontarem participação em crimes de racismo contra a jornalista Maria Júlia Coutinho e a atriz Taís Araújo, em 2015.

A operação foi deflagrada no Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Paraná. No total, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão e quatro de prisão.

Dona MariaJasiane chegou na capital baiana sob forte esquema de segurança  — Foto: Alberto Maraux/SSPJasiane chegou na capital baiana sob forte esquema de segurança — Foto: Alberto Maraux/SSPConsiderada a maior traficante da Bahia, Jasiane Silva Teixeira, conhecida como "Dona Maria", estava entre os foragidos mais procurados do Estado, quando foi presa em Biritiba Mirim, na Região Metropolitana de São Paulo, em 2019. Ela foi solta por habeas corpus expedido pelo Tribunal de Justiça da Bahia no dia 11 de fevereiro de 2020, antes do Carnaval.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), além da distribuição de drogas, a criminosa tinha envolvimento em homicídios, corrupção de menores, roubos, falsificações, tráfico de armas, entre outros crimes.

Natural de Vitória da Conquista, a 500 quilômetros de Salvador, ela comandava uma facção atuante na região sudoeste da Bahia, com ramificações nos estados de Minas Gerais e São Paulo

No "Baralho do Crime" da SSP-BA, Jasiane era a Dama de Copas desde 2017. A mulher foi condenada por participar da morte de um agente penitenciário em Jequié, no sudoeste baiano, um dos locais onde atuava.

Pirâmide com lucro ilegal de R$ 200 milhõesEmpresários da D9 empreendimentos atraíam vítimas com a promessa de ganhar dinheiro com apostas nos jogos — Foto: Reprodução/TV Globo

Empresários da D9 empreendimentos atraíam vítimas com a promessa de ganhar dinheiro com apostas nos jogos — Foto: Reprodução/TV Globo

Em 2017, cinco dias após a Justiça ter decretado a prisão preventiva de um dos fundadores de uma pirâmide financeira que pode ter dado lucro de R$ 200 milhões, a Polícia Civil de Itabuna, no sul da Bahia, apreendeu um valor aproximado de R$ 1 milhão em espécie na conta da sogra do suspeito.Em julho de 2018, a Justiça da Bahia determinou a prisão preventiva de Danilo Santana, fundador da D9 Empreendimentos e um dos empresários investigados por criar o esquema na cidade de Itabuna.

Em fevereiro de 2018, Danilo foi preso em Dubai, nos Emirados Árabes. O nome dele foi incluído na difusão vermelha, lista de procurados pela Interpol, por causa de um pedido de prisão preventiva na cidade na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde o grupo atuava com mais força, segundo a polícia.

Entretanto, a Justiça da Bahia não soube informar se Danilo foi solto novamente. O MP informou que não sabe do paradeiro dos réus, o que torna a prisão necessária para assegurar a aplicação da lei penal.

Prefeitos suspeitos de fraude de R$ 200 milhões

PF faz operação contra fraudes em licitações em três cidades da Bahia

PF faz operação contra fraudes em licitações em três cidades da Bahia

Fraudes em contratos que somavam R$ 200 milhões. A Polícia Federal (PF) realizou em novembro de 2017 uma operação para afastar os prefeitos de Porto Seguro, Eunápolis e Santa Cruz Cabrália, e cumprir mandados de prisão, busca e apreensão e condução coercitiva.

As investigações apontavam que, desde 2009, os prefeitos Claudia Oliveira (PSD), de Porto Seguro; José Robério Batista de Oliveira (PSD), de Eunápolis; e Agnelo Santos (PSD), de Santa Cruz Cabrália – que são parentes –, usavam empresas de familiares para simular licitações e desviar dinheiro de contratos públicos. Claudia Oliveira era casada com José Robério e irmã de Agnelo Santos.Os três prefeitos foram afastados dos cargos por determinação da Justiça por tempo indeterminado, mas voltaram às posições cinco meses depois. A PF chegou a pedir a prisão deles, mas o Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou.

Os policiais afirmaram que foi organizada uma "ciranda da propina" nos três municípios baianos, em razão do rodízio que era feito entre as empresas envolvidas no esquema de corrupção para vencer as licitações e tentar "camuflar" as irregularidades.

Desfiles de carros de luxoForam cumpridos oito mandados de condução coercitiva em Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari  — Foto: Divulgação / Polícia Rodoviária Federal

Foram cumpridos oito mandados de condução coercitiva em Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari — Foto: Divulgação / Polícia Rodoviária Federal

A 2ª fase da Operação Adsumus, em setembro de 2016, trouxe surpresa para muitas pessoas. Cinco veículos de luxo de investigados foram apreendidos em esquema de fraudes em licitações, desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro. De acordo com a investigação, as empresas do ramo de construção civil podem ter movimentado cerca de R$ 1,8 bilhão.

Em julho, a primeira fase da operação já havia afastado o vice-prefeito e o secretário de Administração da cidade de Santo Amaro. A fraude pode ter causado prejuízo de mais de R$ 24 milhões aos cofres do município, segundo o Ministério Público.

Além de carros, também foram apreendidas joias e uma quantia de dinheiro não informada. De acordo com a investigação, o vice-prefeito e o secretário de Santo Amaro, afastados na primeira fase da operação, atuavam para beneficiar as empresas investigadas em licitações e contratos com a administração. 

G1 

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