Aliciadora de Mulheres fala "Não tenho coragem de olhar para elas, diz mulher que aliciava meninas para Klein

Ana Paula Fogo, ex-funcionária de Saul KleinEu não me importaria de passar a vida inteira falando para cada uma: me perdoa, eu nunca quis fazer aquilo”. O pedido de perdão marca a entrevista exclusiva de Ana Paula Fogo, que diz ter trabalhado como aliciadora para o empresário Saul Klein em um suposto esquema de exploração sexual de mulheres. Klein nega as acusações.

A entrevista foi dada à repórter Adriana Farias, do CNN Séries Originais. O programa exibe nesta quinta-feira (27) o resultado obtido a partir do inquérito da Polícia Civil que apura acusações de exploração sexual contra o empresário Saul Klein, filho do fundador das Casas Bahia, Samuel Klein.

Ana Paula Fogo, conhecida como “Banana”, trabalhou durante 12 anos para Saul Klein, e decidiu falar pela primeira vez revelando seu rosto e sua identidade. Ela acompanhou a formação do que considera uma empresa de aliciamento sexual comandada por Saul.

Segundo Ana Paula, o empresário tinha um tipo preferencial de meninas. “A primeira coisa que chamava a atenção era uma magra loirinha, ou castanha-clara, como ele dizia. Dentro de qualquer ambiente, quando se visse uma menina nesse perfil, se abordava. Podia ser no shopping, podia ser na rua, podia ser no metrô, podia ser em qualquer lugar. Uma menina que estava passando por muita dificuldade financeira, não estava conseguindo emprego. Esse perfil, essa idade de 18 anos, ela é perfeita”, afirma.

A mulher diz ter forçado dezenas de meninas a se submeterem aos desejos do empresário. Ela resolveu contar tudo o que sabe como uma forma de pedir perdão às vítimas.

“Eu não me importaria de passar a vida inteira falando para cada uma: me perdoa, eu nunca quis fazer aquilo. Nesse processo, então, todas que estão nesse processo, eu não tenho coragem de olhar para elas. Se você falar para mim, Ana, qual o seu maior problema se você for para o tribunal? Olhar para a cara delas. Se tiver que olhar para cara do Saul, eu acho que o maior desejo da minha vida era dar um soco na cara do Saul. Mas, delas, o olhar delas, para mim, é um tiro”, relatou.

A investigação à qual Ana Paula se refere foi aberta no fim do ano passado, depois que 14 mulheres denunciaram Saul Klein ao grupo Justiceiras, de apoio a vítimas de violência. Elas relatavam casos de aliciamento e estupro, que aconteceriam há pelo menos 12 anos nos imóveis do empresário.

O que dizem as vítimas

O Séries Originais também ouviu seis vítimas do empresário. Nos relatos, que misturam abuso sexual, moral e psicológico, elas contam que eram obrigadas a ficar com ele mesmo após pedirem para ir embora.

“Ali eu já sabia que tinha alguma coisa errada, sabe. Eu fiquei gelada na hora. Que ele pegou na minha mão e falou que eu não precisava ficar nervosa”, relatou uma das vítimas.

Uma das mulheres afirmou, em entrevista, que chegou a pedir para ir embora enquanto estava com o empresário. “E aí eu falei, não, não, eu quero ir embora, o que que vai acontecer, eu quero ir embora”.

“Eu já vi meninas sendo ameaçadas na minha frente. [Ameaçadas] Pelo segurança dele que é policial. Já vi ele agredindo uma menina. Quando eu estava com ele, eu chorava muito. Mas eu botava o rosto no travesseiro e chorava, na minha. No outro dia, acordava, levantava e seguia”, relatou uma das vítimas à reportagem.

A reportagem apurou que eram feitos acordos para que as vítimas não denunciassem os supostos abusos que sofriam do empresário. Saul Klein prestou depoimento à Justiça em janeiro de 2020 e defendeu-se das acusações.

“Quanto foi pago? O contrato foi cumprido, creio que R$ 800 mil”, afirmou Klein em depoimento.  “Nunca paguei por sexo com ninguém. Nem por elas nem por ninguém”, acrescentou o empresário.

A advogada Gabriela Souza é responsável pela defesa de 25 das 32 jovens que já procuraram a polícia para relatar suas histórias.

“Saul Klein está sendo investigado por tráfico de mulheres, favorecimento a prostituição, estupro, estupro de vulnerável, organização criminosa, lesão corporal, lesão corporal grave e gravíssima, falsificação de documentos e, além disso, existem relatos de obstaculização da Justiça por tentativa de compra de depoimento e transmissão de doença venérea”, afirma a advogada.

“A única pessoa que tem coragem de encarar o Saul nesse processo sou eu. E ele sabe por quê. Ele sabe que eu sei de tudo, ele sabe o que ele fez, e ele sabe que eu não tenho medo dele”, afirmou Ana Paula Fogo.

“Eu recém tinha me formado no ensino médio, eu fiz 18 anos em fevereiro. Eu me achava bonita, eu desfilava às vezes. No clube, ganhei ‘garota verão’ um ano”, disse uma das meninas.

Outra jovem relatou que sonhava com a carreira de modelo. “Eu fazia também na época uns trabalhos de modelo. Desde pequenininha eu sempre tive isso por conta dos meus pais. Eles tinham esse sonho, que eu fosse modelo”.

A advogada Luciana Terra, do grupo Justiceiras, explicou como as vítimas decidiram fazer as denúncias.

“As vítimas procuraram o projeto Justiceiras através da doutora Gabriela Manssur, em que tiveram todo atendimento multidisciplinar, jurídico, sócio-assistencial e psicológico, principalmente este, porque muitas estavam muito abaladas com essa situação. Então nós fizemos esse acolhimento inicial, essa orientação e esses encaminhamentos das vítimas que chegaram até nos”, disse a advogada.

Em seguida, as denúncias foram encaminhadas ao Ministério Público. Com a divulgação do caso, outras 18 mulheres decidiram revelar a exploração sexual e ingressar no inquérito. As novas denúncias são ouvidas pela Delegacia Especializada em Violência contra a Mulher de Barueri, na Grande São Paulo.

No inquérito, a defesa de Saul Klein afirma que ele “jamais praticou crime algum e é vítima de atitudes inescrupulosas e criminosas que vem sendo contra ele praticadas há algum tempo”.

O advogado do empresário diz que ele é um “sugar daddy” que gosta de se relacionar com “sugar babies”. Conforme está no inquérito, “ele não guarda segredo de seu profundo apreço pela companhia de mulheres jovens e atraentes, tampouco do prazer que sente por habitualmente exercer o papel de sugar daddy de todas elas.”

O documento aponta ainda que “o contato inicial entre daddies e babies se dá das mais variadas formas, por apresentação de amigos, indicações de outros participantes desse hábito social, agenciamento e até mesmo exposição por websites especialmente dedicados ao tema”.

A defesa diz que o relacionamento “sugar”, entre uma pessoa bem mais velha e outra bem mais nova, não se confunde com prostituição ou exploração sexual, porque não consiste na troca de sexo por dinheiro ou exigência de favores físicos mediante coação ou privação de liberdade.

Os advogados de Saul Klein também dizem que as denúncias foram arquitetadas para tirar dinheiro do empresário.

Saul Klein dançando com menina
Saul Klein dançando com menina
CNN

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