Bahia ultrapassa 1 milhão de casos da Covid-19 e tem quase 21 mil mortos: 'A dor de uma mãe é fazer o atestado de óbito do filho' Falou Luciana Mascarenhas Mãe de Clara Mascarenhas

Bahia ultrapassa a marca de 1 milhão de casos de Covid-19 desde início da pandemia — Foto: Divulgação/Prefeitura de Lauro de Freitas

A Bahia ultrapassou a marca de um milhão de casos confirmados da Covid-19, desde o início da pandemia. Nesta sexta-feira (28), são 1.003.523 registros de pessoas infectadas pelo coronavírus desde o dia 6 de março de 2020, quando o estado confirmou o primeiro caso. Além disso, foram registrados quase 21 mil óbitos.

Dos mais de um milhão de pessoas que já se infectaram na Bahia, 16.803 estão com a Covid-19 neste momento – 2.674 delas hospitalizadas. Cerca de 1.340 pessoas, entre adultos e crianças, lutam por suas vidas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

Em todos os municípios baianos, 965.804 pessoas já foram curadas da doença. Uma delas é a arquiteta Adriane Trindade, de 30 anos. Ela foi, precisamente, a 79ª paciente do estado, no final de março do ano passado.

Sem comorbidades, Adriane enfrentou o coronavírus quando a infecção ainda era novidade para médicos e cientistas.

"Como eu peguei no comecinho dos casos, e até então eu não me reinfectei, parece que foi em outra época que eu tive Covid-19. Foi muito assustador, porque ninguém sabia direito o que era, era tudo muito novo. Eu tive um combo dos sintomas, como falta de ar, dor de cabeça e febre. Mas o peso emocional, de ver todo mundo muito desesperado, foi o pior", lembra ela.A arquiteta Adriane Trindade, de 30 anos, é uma das mais de 960 mil pessoas curadas da Covid-19 na Bahia — Foto: Arquivo pessoal

A arquiteta Adriane Trindade, de 30 anos, é uma das mais de 960 mil pessoas curadas da Covid-19 na Bahia — Foto: Arquivo pessoal

Adriane não precisou ser hospitalizada e fez todo o acompanhamento da doença em casa, em isolamento social para não contaminar outros familiares.

"Fiquei isolada no quarto, todo mundo com medo de mim. Até passar o pânico emocional foi bem difícil. Depois foi melhorando, mas o emocional fica abalado, porque a gente vê mais gente se contaminando, mais casos", disse.

"Em casa, parecia que as pessoas estavam com medo de mim. Não só por causa da doença, mas medo por mim também. Todo mundo me dedicando amor e cuidado por não saber o que era direito", lembra.

Hoje, a arquiteta comemora o que ela mesma chama de "alegria disfarçada", um paradoxo triste: a chance de celebrar a própria vida, mas sentindo o pesar por tantas outras pessoas que não tiveram a mesma oportunidade.

"Me sinto privilegiada de não ter perdido ninguém da minha família. Tem outras pessoas que pegaram, mas a gente não teve nenhuma perda. Então, eu sinto hoje essa alegria disfarçada, de não ter perdido ninguém, porque essa é a pior parte".

"É muito difícil ver o sofrimento dos outros" – Adriane Trindade.

Famílias em lutoAto usa cerca de 200 cruzes no Farol da Barra para lembrar as vítimas da Covid-19 — Foto: Romildo Brandão/TV Bahia

Ato usa cerca de 200 cruzes no Farol da Barra para lembrar as vítimas da Covid-19 — Foto: Romildo Brandão/TV BahiaNa Bahia, as famílias de 20.916 pessoas convivem com a dor de perder um parente para uma doença que, apesar de não ter tratamento comprovado, pode ser evitada com vacina. Uma vacina que chegou em janeiro deste ano, quando o estado baiano tinha 544.324 casos confirmados e 9.697 mortes.

A triste marca dos 20 mil mortos foi atingida há cerca de 10 dias. Uma dessas perdas foi a da jovem Clara Mascarenhas, de apenas 22 anos. Talentosa e dedicada, Clara era filha do cantor Canindé, de quem herdou a veia artísticaVioloncelista e leitora voraz, a jovem Clara Mascarenhas, de 22 anos, foi uma das vítimas da Covid-19 na Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Violoncelista e leitora voraz, a jovem Clara Mascarenhas, de 22 anos, foi uma das vítimas da Covid-19 na Bahia — Foto: Reprodução/Redes Sociais

A jovem era violoncelista e leitora voraz. Em seu perfil na internet, compartilhava dicas de livros e estudos para outros jovens. Clara morreu em Jacobina, no norte da Bahia, após ser internada em uma UTI por causa do coronavírus. Abalada, a mãe de Clara, Luciana Mascarenhas, fala com carinho da filha.

“Para todo lugar que eu olho, é lembrança muito forte. A casa toda é a cara dela, o lugar preferido de minha filha. Ela era uma menina de outro mundo. Clara era dedicada, inteligente, esforçada. Fazia planejamento de leituras, tinha feito inglês, alemão e estava terminando francês. Minha filha era música e ela sempre foi incentivada”."A dor de uma mãe é fazer o atestado de óbito de seu filho" – Luciana Mascarenhas.

Preocupada com a Covid-19 desde o início dos casos, Clara era a fonte de informação da família. Era ela quem pesquisava o que estava acontecendo e quem alertava aos pais e irmãos sobre o que fazer para evitar o contágio.

“Ela era muito cuidadosa. Brigava se alguém chegasse aqui sem máscara, se não tirasse os sapatos. Em momento nenhum eu pensei que uma tragédia dessa ia chegar na minha casa", lembra.

"Clara nunca tinha ficado internada em um hospital antes. Minha filha nasceu e morreu no Regional [Hospital Regional Vicentina Goulart]. Agora o mundo fica vazio, sem nada. Eu não consigo mexer no quarto dela”, conta Luciana, emocionada. 

G1

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