Rejeita no Big Brother Brasil Karol Conká diz que toda a raiva contra ela deveria se centrar em Jair Bolsonaro

 

[Karol Conká diz que toda a raiva contra ela deveria se centrar em Jair Bolsonaro]

Seja na vida antes ou depois do tombo, o que não sai das costas é a “mochilinha da responsa”. É o peso que a rapper Karol Conká, que canalizou todo o ódio nacional após sua ruidosa passagem pelo Big Brother, diz que toda pessoa negra carrega no país.

“É algo transparente, que só preto enxerga. Você não pode errar, não pode encostar na prateleira, senão vão achar que está roubando”, diz a cantora. “Quando essa diva sai do trilho, você vê que não existe esse acolhimento todo.”

Ela saiu dos trilhos neste primeiro semestre. Diante das câmeras, protagonizou rusgas com Lucas Penteado, Arcrebiano e Carla Diaz, outros dos participantes do reality —algumas chegaram a ser consideradas abuso psicológico. Foi defenestrada do programa com rejeição recorde de 99,17% e sofreu linchamento nas redes sociais, xingada de macaca, feia e criança.
Fora da casa, diz que fez um detox virtual de dois meses, pediu para a equipe trocar suas senhas, apagou os aplicativos do celular e agora volta à vida virtual com uma série de vídeos que de alguma forma têm tudo a ver com a sua passagem pelo reality da Globo.

Vem K, seu novo projeto, será publicado nas redes sociais da cantora. Criado em parceria com sua empresária, Fabiana Bruno, a série vai falar sobre saúde mental e trará entrevistas com profissionais da área, incluindo a psicanalista Maria Homem, ensaísta e colunista deste jornal, em seu episódio de estreia, no dia 15.

“Uma das maiores decepções que tive comigo mesma foi perceber o quanto tinha deixado de lado essa questão da minha ansiedade, que reverberou da pior forma”, diz a rapper. Não fosse o apoio das pessoas próximas, diz que poderia estar ainda mais amargurada. “Eu ia falar ‘cadê a sororidade, cadê o movimento negro em massa?’. Não é passar a mão na cabeça, mas demonstrar apoio para o irmão que errou. Por que, quando um branco erra, a gente vê isso em massa nas redes sociais?”

Ela sente que tiram dela o direito de defesa e de retratação. “É como se nem preta eu fosse mais”, diz a cantora, que conta que foi chamada de racista porque brigou com outro participante negro, Lucas. “Comunidades brigam entre si, pretos brigam entre si.”

Karol diz não ter orgulho de saber que suas rusgas no BBB levaram o reality a picos de audiência. “Isso mostra o quanto as pessoas amam odiar”, afirma. O mais difícil, crê, é ceder a um público que clama por retratação e que, quando vê uma celebridade se desculpar, responde que ela está mentindo. “É como se eu tivesse cometido uma atrocidade.”

Na visão dela, a comoção deveria estar em cima das cobranças sobre a postura do governo com a pandemia. “Isso merece o gasto de energia para ir às redes ou às ruas e protestar. Nossa raiva tinha que ser canalizada para isso. Então, estou de mão dada aí com todo mundo que é fora morte, fora Bolsonaro. Estou na torcida para que o milagre aconteça.”

Vem K é o terceiro projeto anunciado pela cantora após o BBB. Ele vem no rescaldo do documentário “A Vida Depois do Tombo”, no Globoplay, que foi uma forma de a TV Globo tentar reabilitar a fama da rapper depois do linchamento. E da música “Dilúvio”, single em que fala de dor e sofrimento e para o qual até mudou seu visual —ela agora aparece com madeixas cacheadas e looks de tons mais claros.

Antes do Big Brother, Karol conta que nunca tinha feito nenhum acompanhamento psicológico porque considerava esse um assunto tabu. “Não podemos achar que saúde mental só está ligada a pessoas que estão com problemas. Aprendi a não esperar explodir para ir atrás [de ajuda]”, conta a cantora.

Foi sua empresária que deu um toque, assim que ela deixou o programa. “Quando ela saiu do BBB, a gente teve uma conversa bem franca em que eu perguntei para ela ‘você percebeu que não foi legal?’”, diz Fabiana Bruno. “A passagem acionou gatilhos nela que estavam debaixo do tapete por muito tempo.”

A rapper conta que, entre amigos e familiares, a terapia sempre foi algo distante. Era algo para quem tem dinheiro ou é “gente chique”, lembra. A própria ideia de acompanhamento psicológico costuma ser vista como tabu, principalmente entre as pessoas negras, segundo Karol Conká.

“Porque é como se não chegasse para a gente”, ela afirma. O novo projeto conta, ao todo, com nove profissionais da área, sendo seis negros.

Mesmo escaldada pelas ofensas que recebeu, ela afirma que não se arrepende de ter entrado no reality.
E também não descarta a possibilidade de se aventurar em outro reality. “Eu acho que dependendo da situação, eu entraria novamente. Mas, hoje, digo que não, não tem por quê.” Fora da casa há mais de três meses, Karol afirma que não pode ser definida pelos 30 dias que passou no programa.

O ódio voltado a ela, crê, pode ter ficado para trás. Além de pedidos de desculpas e mensagens de carinho, colheu nas redes sociais um aumento no número de seguidores —hoje, são 1,7 milhão, mais do que colecionava antes do BBB, mesmo com a fuga de 300 mil que se indignaram com sua postura na TV.

Sobre aqueles que ainda insistem no discurso racista, ela diz que quer que assistam ao seu novo programa no Instagram e pensem “batemos nela, mas ela está ali, plena e maravilhosa, acho que agora eu estou gostando dela”.

B.News

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