Com maior volume de chuva nas últimas décadas no mês de dezembro, Bahia tem desafio para reconstrução de cidades

Foto aérea das enchentes causadas por fortes chuvas em Itapetinga, no sul da Bahia, no domingo (26)  — Foto: Clewton Dias/G4TV Drones/AFP

Com o maior volume de chuva nas últimas décadas no mês de dezembro, a Bahia enfrenta um desafio enorme após os estragos causados pelos temporais: a reconstrução das cidades.

O governo do estado afirmou na última terça-feira (28) que a Bahia registrou o maior acumulado de chuvas para dezembro nos últimos 32 anos. Já o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), este mês apresenta o maior volume de chuvas dos últimos 60 anos.

E a MetSul Meteorologia aponta que os temporais registrados no estado são os mais extremos no planeta, isso porque "nenhum lugar do mundo teve uma chuva tão acima da média e em uma área abrangente como o estado da Bahia nos últimos 30 dias". O fato é: nunca choveu tanto no estado nas últimas décadas.

Após dias marcados por muita chuva, a Bahia busca forças para se reerguer em meio aos estragos causados pelos temporais.

Reconstrução de cidades

Veja os estragos provocados pelas chuvas na Bahia — Foto: Karen Póvoas/g1 BA

Veja os estragos provocados pelas chuvas na Bahia — Foto: Karen Póvoas/g1 BA

Na última terça-feira (27), o Governo Federal anunciou um aporte de medida provisória de R$ 200 milhões para recuperar os danos causados pelas chuvas em todo o país.

Para toda a região Nordeste, o valor direcionado foi de R$ 80 milhões. No entanto, o governador da Bahia, Rui Costa, avaliou que essa quantia é insuficiente.

Ministros sobrevoam áreas devastadas pela chuva na Bahia — Foto: Franciele Caetano/TV Santa Cruz

Ministros sobrevoam áreas devastadas pela chuva na Bahia — Foto: Franciele Caetano/TV Santa Cruz

Durante uma entrevista coletiva aos jornalistas em Ilhéus, após a reunião com os ministros que sobrevoaram a região do sul da Bahia, o governador pediu um aporte maior do governo federal, para reconstruir as rodovias do estado.

"Eu queria fazer um apelo, porque não é possível recuperar as estradas federais com R$ 80 milhões para o Nordeste. Com R$ 80 milhões não dá para recuperar as da Bahia, pelo estrago que tem, com vários rompimentos. Eu faço um apelo no sentido de um aporte direcionado ao estado da Bahia, porque o que está publicado, a portaria fala de R$ 200 milhões, sendo para o Nordeste R$ 80 [milhões]", disse Rui.

O ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, respondeu que ainda aguarda novas análises para definir novas medidas.

"O governo fez o primeiro trâmite, emergencial. Nós estamos aguardando ainda um diagnóstico mais apurado, para saber qual é a necessidade que vamos ter efetivamente, e será feito o que for necessário para a recuperação das estradas e rodovias, como nas estradas vicinais, a questão das casas, a questão dos acessos. Agora nós vamos precisar de um pouco mais de tempo, para administrar os efeitos dessa catástrofe climática", ponderou Marinho.

Ajuda humanitária negada

O governador da Bahia, Rui Costa, pediu que o governo federal autorizasse uma missão estrangeira da Argentina para ajuda humanitária nas áreas afetadas pela chuva no estado. A informação foi compartilhada através de uma rede social, na quarta-feira (29), porém, à noite, o pedido foi negado.

Governo federal nega pedido de Rui Costa para autorizar missão Argentina à Bahia — Foto: g1 BA

O g1 teve acesso com exclusividade ao documento do Ministério das Relações Exteriores que foi enviado à embaixada da Argentina que dispensa a ajuda oferecida. Em um trecho do documento, o governo federal afirma que os recursos pessoal e financeiro são suficientes, com reserva de R$ 200 milhões para enfrentar a emergência.

"Na hipótese de agravamento da situação, requerendo-se necessidades suplementares de assistência, o Governo brasileiro poderá vir a aceitar a oferta argentina de apoio da Comissão Capacetes Brancos, cujos trabalhos são amplamente reconhecidos", diz outro trecho do documento.

Perdas de vacinas

Posto de saúde em Medeiros Neto, na Bahia — Foto: Divulgação/Prefeitura de Medeiros Neto

Quatro cidades baianas relataram perdas de vacinas à Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) por causa das chuvas, após o alagamento de unidades de saúde e da oscilação de energia. São elas: Jucuruçu, Itororó, Ubaíra e Itapitanga.

Segundo a diretora de Vigilância Epidemiológica da Bahia, Márcia São Pedro, os municípios de Itororó e Ubaíra confirmaram perdas, mas não detalharam a quantidade, nem especificaram quais seriam as vacinas.

Em Itapitanga e Itapé, os imunobiológicos estão sob suspeita de que perderam a validade e não poderão ser usados por enquanto.

24 mortes e 629 mil afetados

Juliana Reis, de 37 anos, é vista próxima aos escombros de sua casa, destruída pelas enchentes em Itambé, no sul da Bahia, nesta terça (28) — Foto: Amanda Perobelli/Reuters

O número de mortos por causa da chuva na Bahia subiu para 24, na quarta-feira. Os dados foram divulgados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil (Sudec), que contabiliza 91.258 pessoas desabrigadas ou desalojadas.

As mortes ocorreram em Amargosa (2), Itaberaba (2), Itamaraju (4), Jucuruçu (3), Macarani (1), Prado (2), Ruy Barbosa (1), Itapetinga (1), Ilhéus (2), Aurelino Leal (1), Itabuna (2), São Félix do Coribe (2) e Ubaitaba (1).

O número de desabrigados – que são as pessoas que perderam seus imóveis e precisam de apoio do poder público – está em 37.324. Já o total de desalojados – que são as pessoas que também perderam os imóveis, mas foram alocadas em casas de familiares – está em 53.934.

Ao todo, 629.398 pessoas foram afetadas pela chuva. O número de feridos aumentou de 358 pessoas para 434. Nesta quarta, 136 cidades seguem sob decreto de situação de emergência.

Acumulado de chuvas e previsão

Nas cidades de Lençóis, Caravelas e Ilhéus, o total de chuva em dezembro, até a manhã da última terça-feira era maior do que a média para todo mês e o maior para dezembro desde 1961. [Veja imagem abaixo]

Em Lençóis, Caravelas e Ilhéus, o total de chuva em dezembro é o maior para dezembro desde 1961 — Foto: Reprodução/INMET

O principal fenômeno meteorológico responsável pelas chuvas no estado foi a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

Segundo Mauro Bernasconi, meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), o tempo na Bahia deve se manter firme nos próximos dias nas regiões nordeste e norte do estado.

"Para Salvador, o tempo também deve se manter firme, mas vale salientar que a capital baiana é uma região muito úmida e sempre existe a possibilidade de chuvas isoladas", afirmou.

"Para o extremo sul do estado, o tempo deverá ter uma redução gradual de nebulosidade, na frequência e intensidade das chuvas até a virada do ano", explicou.

Já para a região da Chapada e do oeste baiano, o meteorologista disse que as chuvas deverão se manter com intensidade moderada até o réveillon.

Principal fenômeno meteorológico responsável pelas chuvas no estado foi a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) — Foto: Reprodução/INMET

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