MP apreende R$ 2 milhões em casa de delegada em ação contra bicheiro e assassino de Marielle

 A delegada Adriana Belém em foto de seu perfil no Instagram A delegada Adriana Belém em foto de seu perfil no Instagram Foto: Reprodução


A delegada Adriana Cardoso Belém, que por anos foi titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), é um dos alvos da Operação Calígula, contra uma rede de jogos de azar explorada pelo contraventor Rogério de Andrade e pelo PM reformado Ronnie Lessa. Na casa da policial, os investigadores encontraram quase R$ 2 milhões em espécie. O dinheiro estava em sacos de grifes famosas e dentro de uma mala de viagem em um closet. O montante surpreendeu os promotores; foi preciso levar máquinas para contar as cédulas. Ela está lotada na Secretaria Municipal de Esportes do Rio, no cargo de assessora, e será exonerada nesta terça-feira, segundo a prefeitura.

Belém entregou a titularidade da distrital que comandava em janeiro de 2020, um dia depois de o chefe do Setor de Investigações (SI) da delegacia ser preso na operação Os Intocáveis II. De acordo com o Ministério Público (MP) do Rio, Jorge Luiz Camillo Alves é suspeito de dar apoio a milicianos que atuam na Zona Norte do Rio, como os da Muzema, alvos de investigação pela qual era responsável. Naquele ano, a delegada chegou a se candidatar para o cargo de vereadora no Rio, pelo PSC, mas não foi eleita.

Além do chefe de investigações, outro policial da 16ª DP foi preso, também por suspeita de envolvimento com a milícia: Alex Fabiano Costa de Abreu. Ele e Camillo receberiam propina dos paramilitares. De acordo com o MP, além dos dois agentes, outros sete policiais (um civil e seis PMs) teriam ligações com milicianos.

Os agentes também encontraram, em outros endereços visados pela Operação Calígula, R$ 48.251,20, 2.200 dólares, 4.420 pesos argentinos, 70 pesos uruguaios, todos em espécie, além de R$ 3.800 em cheque, diversos documentos, pendrive, chips, noteiros, máquinas de cartão, 107 máquinas de caça-níquel, cópias de processos e componentes eletrônicos.

O Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) do MP do Rio, em sua denúncia da Intocáveis 2, pediu que cópias do relatório produzido durante a investigação fossem enviadas para a 23ª Promotoria de Investigação Penal da 1ª Central de Inquéritos, com o objetivo de que seja apurada a conduta da delegada Adriana Belém à frente da 16ª DP (Barra da Tijuca). Além dela, a promotoria também cita o nome do delegado Marcos Cipriano de Oliveira Mello, titular da Delegacia de Defraudações, como suspeito de eventual "prática delituosa".

Conversas com acusado de matar Marielle e Anderson

De acordo com o MP, Camillo — preso em casa — foi flagrado em uma "intensa sequência de diálogos" com Ronnie Lessa, acusado de executar Marielle e Anderson junto com Élcio de Queiroz. O MP chegou a esse policial civil graças à análise de um telefone celular apreendido na Operação Lume, durante a qual Lessa e Queiroz foram presos.

O policial era tratado por Lessa como o “Amigo da 16”, em referência à delegacia da Barra da Tijuca, informou o MP. Segundo o órgão, o tratamento se repetia em "em vários trechos dos diálogos".

O Ministério Público do Rio (MPRJ) deflagrou, na manhã desta terça-feira a Operação Calígula, contra o contraventor Rogério de Andrade, o PM reformado Ronnie Lessa — réu pela morte da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes — e outras 27 pessoas. Até agora, onze já foram presos, entre eles, o delegado Marcos Cipriano de Oliveira Mello, que será levado para a Corregedoria da Polícia Civil. A delegada Adriana Cardoso Belém, que por anos foi titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), é um dos alvos. Na casa da policial, atualmente lotada na Diretoria de Pessoal da Polícia Civil, a geladeira da corporação, os investigadores encontraram quase R$ 1,2 milhão em espécie armazenado em sacolas de lojas famosas de roupas.

Amiga de jogadores de futebol e artistas

Em fotos e vídeos publicados em redes sociais, a delegada Adriana Belém exibe imagens com amigos famosos, como artistas e jogadores de futebol. Um dos que mais aparece em seu perfil no Instagram é Adriano Imperador, que já atuou no Flamengo e na Seleção Brasileira e que a chama de “madrinha”, mas atletas como Edmundo e Carlos Alberto, os pagodeiros Dudu Nobre e Xande de Pilares e o surfista e ex-BBB Pedro Scooby também figuram nos registros. Há ainda publicações com juizes, como Tula Corrêa Mello, além de advogados e policiais civis.


Adriana Belém o ex-jogador Adriano
Adriana Belém o ex-jogador Adriano Foto: Reprodução

Nas postagens em seu perfil do Instagram, em que acumula 155 mil seguidores, Adriana Belém mostra também uma rotina social agitada, com festas em casas noturnas, sambas e pagodes, viagens a bordo de lanchas, idas a camarotes na Marquês de Sapucaí e ainda poses na varanda de seu apartamento, com vista para o mar da Barra da Tijuca.


Declaração no TRE

Durante a candidatura, a delegada Adriana Belém declarou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ter um patrimônio de R$ 1.887.515,34. Desse montante, ela informou ter R$ 180 mil em espécie, além de tem dois apartamentos - um de R$ 750 mil e outro que valeria R$ 370 mil, e um carro no valor de R$ 103 mil. Na última semana, ela fez publicações nas redes sociais mostrando um Jeep Compass avaliado em R$ 175 mil que deu de presente ao filho. O veículo foi enviado a uma blindadora após a compra e recebido ontem, na garagem do prédio onde moram, na orla da Barra da Tijuca, pelo estudante.

De acordo com a Secretaria de Planejamento e Gestão, do Governo do Estado do Rio, a delegada embolsou R$ 27,248.23 no último mês. Ela ainda acumula um cargo de assessora na secretaria municipal de Esportes e Lazer, pelo qual ganhou R$ 8.345,14 também em abril. Adriana foi indicada a pasta pelo ex-secretário Guilherme Schleder, que atualmente é pré-candidato a deputado estadual pelo PSD.

Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil destacou que “Adriana Belém está afastada de licença” e que “há anos ela está afastada de cargos da Secretaria de Polícia Civil”. A prefeitura do Rio informou que Adriana Belém será exonerada nesta terça-feira, após a deflagração da Operação Calígula.

O advogado Bruno Castro, que defende Ronnie Lessa, divulgou a seguinte nota: Soubemos pela imprensa do ocorrido. Nós ainda vamos nos inteirar do que está acontecendo. Saber se há alguma acusação, qual acusação e quais os elementos que subsidiam ela. Por enquanto, não temos como nos posicionar. Estamos no escuro.

A defesa de Rogério Andrade, representada pelo advogado Ary Bergher, também se manifestou por nota: Essa operação além de não deixar demonstrado a necessidade da prisão cautelar do Rogério, se mostra claramente uma afronta ao STF que acaba de conceder o trancamento de uma ação penal contra ele. Isso vem ocorrendo desde juízes como o De Sanctis, Marcelo Bretas e Sérgio Moro, que tentam burlar as decisões do STF.

Extra o Globo

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