França: esqueletos antigos descobertos revelam assassinatos ao estilo da máfia

Pesquisadores acreditam que duas das mulheres foram assassinadas em um sacrifício ritual.

Há mais de 5.500 anos, duas mulheres foram amarradas e, provavelmente, enterradas vivas durante um ritual de sacrifício utilizando uma forma de tortura associada hoje à máfia italiana, segundo uma análise de esqueletos descobertos em um sítio arqueológico do sudoeste de França.

Pesquisadores estudaram a posição incomum de três esqueletos femininos encontrados em 1985 na tumba de Saint-Paul-Trois-Châteaux, e chegaram à conclusão de que duas das mulheres provavelmente morreram devido a uma forma de tortura conhecida como “incaprettamento”, que consiste em amarrar uma corda no pescoço, ligadas às pernas pelas costas, resultando em um estrangulamento “auto-imposto”.

Os investigadores também verificaram esqueletos encontrados em outros sítios arqueológicos da Europa e identificaram mais 20 casos prováveis de mortes semelhantes.

Segundo o estudo publicado na semana passada na revista Science Advances, é possível que esta prática estivesse relativamente difundida na Europa do Neolítico (fim da Idade da Pedra).

A terceira mulher encontrada na tumba estava em posição normal de enterro e não se sabe como teria morrido, declarou Éric Crubézy, um dos autores principais do trabalho e antropólogo biológico da Universidade Paul Sabatier de Toulouse, à CNN na terça-feira (16). “Mas podemos dizer que colocaram as três mulheres na tumba ao mesmo tempo”, completou.

O local de enterro das mulheres estava alinhado com o nascer do sol no solstício de verão e o pôr do sol no solstício de inverno, o que levou os autores do estudo a considerar a hipótese de que o local servia como um lugar onde as pessoas se reuniam para marcar a mudança das estações, o que poderia explicar os sacrifícios humanos.

“Há sempre a ideia de que, se alguém morrer, as colheitas crescerão”, acrescentou Crubézy, referindo-se a essa crença que aparece em outras culturas, como a prática de sacrifícios humanos dos incas na América do Sul.

Crubézy fez parte da equipe original que cavou a tumba em 1985, mas não foi antes da interrupção provocada pela pandemia de Covid-19, quando ele e os seus colegas começaram a investigar outros casos de assassinatos deste tipo.

Após revisar a bibliografia existente, os pesquisadores identificaram outros 20 exemplos prováveis de pessoas sacrificadas da mesma maneira ao longo de dois mil anos no Neolítico. De acordo com o estudo, o número real era provavelmente mais elevado, mas não havia informação suficiente sobre esqueletos de outros sítios arqueológicos para tirar conclusões sólidas.

“Em diferentes partes da Europa, tratava-se do mesmo tipo de sacrifício”, disse Crubezy. “E este sacrifício é muito particular porque é cruel… e não há sangue nem pessoas que matassem outras, as pessoas matavam a si mesmas”.

Embora seja impossível demonstrar definitivamente que as mulheres da tumba de Saint-Paul-Trois-Châteaux morreram ali mesmo, a posição “empilhadas umas sobre as outras e entrelaçadas com fragmentos de pedras de moer” implica que foram colocadas ali à força e deliberadamente, “o que sugere fortemente que sua morte provavelmente ocorreu” na tumba, segundo o estudo.

O estudo pode afirmar com “95% de certeza que os três indivíduos eram mulheres”, depois de medir com precisão diversas características do osso pélvico, segundo explicou à CNN Ameline Alcouffe por e-mail, co-autora do estudo e aluna de doutorado na Universidade Paul Sabatier.

De acordo com o estudo, também foram encontrados homens e crianças nos outros campos da Europa, bem como mulheres, que foram mortos desta forma.

No futuro, segundo Crubézy, os investigadores se propuseram a analisar a relação familiar entre as três mulheres de Saint-Paul-Trois-Châteaux e investigar ritos de morte incomuns observados em outras tumbas dos arredores do local.

CNN

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