Comandante exonerado após operação considerada desastrosa no Morro Santo Amaro é coautor de livro que inspirou 'Tropa de elite'

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Exonerado no domingo (08) pelo governador do Rio, Cláudio Castro, o coronel André Luiz de Souza Batista, então comandante do Comando de Operações Especiais (COE), é coautor do livro "Elite da tropa", que inspirou o filme "Tropa de elite". Ele foi um dos responsáveis, ao lado do também exonerado coronel Aristheu Lopes, então comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), pela operação que resultou na morte de um morador no Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul, na madrugada de sábado (07).

Fruto de uma parceria entre André Batista, o ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel e o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares, "Elite da tropa" é baseado em fatos reais e retrata, em 316 páginas, a violência das grandes cidades sob o ponto de vista do policial, contando histórias de personagens que viveram o dia a dia no Bope. A primeira publicação da obra foi em 2006. No ano seguinte, deu origem ao "Tropa de elite", do cineasta José Padilha, longa que se destaca por retratar a luta do bem contra o mal no mundo policial, ou o enfrentamento de agentes honestos contra os corruptos.

Formado em Direito pela PUC-Rio e mestre em Gestão Empresarial pela FGV, André Batista já comandou o 9º Batalhão (Rocha Miranda) e o Batalhão de Polícia de Choque. No Curso de Operações Especiais pelo Bope, especializou-se em negociação com reféns, gerenciamento de crises e técnica de combate em áreas conflagradas. No ano 2000, foi um dos negociadores no sequestro do ônibus 174. Nos últimos anos, tem se dedicado também a ministrar palestras sobre sua trajetória na corporação.

— André é um cara muito bom. Muito preocupado com as operações. Não sei o que houve, mas foi um grande erro — observa Rodrigo Pimentel, hoje comentarista de segurança e palestrante.

A operação de sábado

O jovem Herus foi baleado no Morro Santo Amaro e não resistiu — Foto: Arquivo pessoal
O jovem Herus foi baleado no Morro Santo Amaro e não resistiu — Foto: Arquivo pessoal

Na madrugada de sábado, uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Comando de Operações Especiais (COE) durante uma tradicional festa junina deixou seis moradores baleados. Um deles, o office boy Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, foi atingido por um disparo no abdômen e outro no quadril e não resistiu.

Segundo o pai de Herus, Fernando Guimarães, toda a família estava na festa junina — inclusive ele e a esposa — quando, por volta de 3h30, homens do Bope entraram no local atirando:

— A gente estava na festa, cheia de crianças. Eles entraram dando tiro, sem motivo algum. Meu filho tinha acabado de sair para comprar um lanche. Graças a Deus o filho dele não estava presente. Ele chegou a ser reanimado no hospital, mas não resistiu. Era trabalhador, sem ficha criminal, pagava pensão. Infelizmente, não vai voltar. Hoje ele é mais um. Mas as autoridades precisam explicar o que estavam fazendo no morro naquele horário. Quem autorizou essa operação?

A família de Herus relata, ainda, que os policiais agiram de forma truculenta, arrastando o rapaz ferido numa escada. De acordo com parentes, os agentes agiram com agressividade também ao falar com eles.

Um dia depois, além dos oficiais, o governador Cláudio Castro a afastou 12 policiais que participaram da incursão.

Admissão de erro

O secretário da Polícia Militar do Rio, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou, nesta segunda-feira, que houve um erro no planejamento da operação. O oficial listou os requisitos para uma ação emergencial, que, segundo as autoridades, foi a deflagrada no Santo Amaro após o recebimento de denúncia de que homens armados se reuniriam no local para fazer ataques contra bandidos rivais, e disse que "restou provado que não foram observados protocolos e procedimentos da corporação".

Neste segunda-feira (9), o tenente-coronel Marcelo Corbage foi anunciado como o novo comandante do Bope. ele assumirá na quinta-feira (12). Atualmente, ele comanda o 22º BPM (Maré). 

Extra o Globo

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