Os gastos com o período do São João em municípios de toda a Bahia seguem chamando a atenção. A BNews Premium analisou dados referentes a todas as 417 cidades baianas junto ao Painel de Transparência dos Festejos Juninos, plataforma elaborada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), e que considera os gastos voltados ao São João entre os meses de maio, junho e julho.
Entra ano, sai ano, artistas renomados e campeões de shows lotam palcos nas mais variadas estruturas e palcos ao redor do território baiano, chamando atenção para as disparidades envolvendo os gastos públicos e a situação financeira das cidades.
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E as dívidas?
Diante dos altos valores investidos em atrações musicais por toda Bahia, a BNews Premium observou o montante gasto por municípios superendividados com a União, que, mesmo assim, investiram milhões para contratar atrações famosas para os festejos juninos.
Um levantamento realizado em 2024 pelo Ministério da Fazenda, divulgado pelo instituto Fiquem Sabendo, revelou que cerca de 107 municípios do país possuem dívidas com a União, totalizando R$ 4,5 bilhões, incluindo os da Bahia. No ranking nacional, o estado ocupa o terceiro lugar em número de municípios inadimplentes, ficando atrás de Minas Gerais, com 30, e São Paulo, com 27.
Ao todo, a Bahia tem nove cidades inadimplentes. Entre as regiões mais endividadas no cenário baiano, destacam-se Juazeiro, tendo a pagar R$ 113 milhões a União, seguida por Porto Seguro com R$ 77 milhões em dívidas, e, fechando o ranking, o município de Caravelas devendo R$ 5 milhões. A BNews Premium tenta contato com os prefeitos e aguarda o posicionamento. As manifestações serão incluídas nas matérias conforme sejam enviadas.
Embora as cidades citadas liderem a lista dos municípios mais endividados da Bahia, o ranking dos maiores gastos com contratações artísticas inclui outras cidades baianas. No topo entre os municípios superendividados que mais investiram nesse tipo de despesa está Senhor do Bonfim. Segundo dados do MP-BA, analisados pela BNews Premium, o município gastou R$ 5,3 milhões, com o maior cachê sendo pago ao artista Natazinho Lima (R$ 600 mil).
Os municípios que menos investiram em atrações musicais foram Caravelas, com R$ 530 mil, seguida por Juazeiro, com R$ 258 mil, e, por fim, Teixeira de Freitas, com R$ 91 mil.
"Riqueza de atrações"
Wesley Safadão, dono do cachê mais alto do São João em todo o estado (R$ 1,1 milhão por show), não vai se apresentar em Salvador. Apesar de ter vindo à capital baiana em 2024, quando foi contratado por R$ 900 mil, neste ano Safadão terá agenda "apenas" em Cruz das Almas, Jequié, Oliveira dos Brejinhos e Bom Jesus da Lapa — lucrando R$ 4,4 milhões.
Para se ter uma ideia, das 169 atrações que vão se apresentar em Salvador, sendo a maioria esmagadora em junho, para alcançar as cifras desembolsadas por Safadão é necessário somar o cachê dos seis artistas mais caros — que, juntos, alcançam R$ 4,6 milhões. São eles:
- Simone Mendes (R$ 800 mil);
- Leonardo (R$ 750 mil);
- Solange Almeida (R$ 700 mil);
- Pablo (R$ 550 mil);
- Murilo Huff (R$ 500 mil);
- Manu Bahtidão (R$ 450 mil);
- Tarcísio do Acordeon (R$ 450 mil);
- além da dupla Iguinho e Lulinha (R$ 400 mil).
A BNews Premium também analisou os festejos juninos da Bahia como um todo. Com R$ 9,5 milhões gastos em 2025, o município de Cruz das Almas, no Recôncavo baiano, lidera a lista entres as cidades do interior. Por lá, ao todo, foram 29 contratos firmados com cada centavo sendo arcado pela prefeitura.

Na segunda posição da lista está o município de Jequié, no Sudoeste da Bahia, com 37 contratos firmados. A cidade gastou R$ 8,9 milhões em atrações, sendo R$ 7,4 milhões custeados com recursos próprios e R$ 1,5 milhão através de verba do governo federal, de acordo com dados do Ministério Público da Bahia.
Mesmo tendo firmados menos contratos em relação às duas primeiras cidades, o município de Irecê, no Centro-norte baiano, figura na terceira posição da lista das cidades do interior da Bahia que mais gastaram com as festas juninas. No total, foram desembolsados R$ 7,9 milhões em 24 contratos arcados integralmente com verbas da prefeitura.
Artistas no centro da festa
A BNews Premium também separou os dez artistas mais contratados para se apresentar em solo baiano e as cifras pagas a cada um deles (veja mais abaixo). O destaque vai para a banda Toque Dez — com 40 contratos já firmados. O grupo faturou, ao todo, R$ 11,5 milhões.
Vale lembrar que, no ano passado, a Toque Dez já havia liderado o ranking tendo firmado 44 contratos para se apresentar no São João em toda a Bahia. Em 2025, a segunda colocação no quesito ficou com o cantor Tayrone. O artista somou R$ 7,4 milhões com 26 contratos firmados.
O top-3 é fechado por outro artista de carreira solo: Devinho Novaes. O cantor foi contratado 25 vezes neste ano e, com isso, vai faturar R$ 5,7 milhões em meio a apresentações no São João de 2025.
Confira abaixo os cinco artistas mais contratados no São João da Bahia em 2025:
- Toque Dez: 40 contratos firmados e R$ 11.550.000,00 faturados
- Tayrone: 26 contratos firmados e R$ 7.460.000,00 faturados
- Devinho Novaes: 25 contratos firmados e R$ 5.770.000,00 faturados
- Batista Lima: 24 contratos firmados e R$ 4.320.000,00 faturados
- Silfarley: 20 contratos firmados e R$ 3.690.000,00 faturados
E a capital?
Em Salvador entre o ano passado e 2025 registraram um aumento exponencial na comparação com os anos 2022-2023. No geral, houve uma explosão de 5.637% com os valores desembolsados com cachês de artistas e organização das festas durante o período junino na capital baiana no cenário pós-pandemia já consolidado.
No primeiro biênio do comparativo, o valor somado foi de R$ 900,5 mil referentes a 38 atrações — 15 delas em 2022, e outras 18 em 2023. Já entre 2024 e este ano foram mais de R$ 51,6 milhões gastos. Essas cifras foram divididas entre incríveis 191 atrações no ano passado (somando R$ 31,5 milhões) e 169 atrações em 2025 (computando R$ 20,1 milhões).
Chamou a atenção da reportagem o fato da fatia majoritária dos R$ 20,1 milhões referentes ao São João deste ano na capital baiana terem sido custeadas pelo governo da Bahia. No geral, os dados do MP-BA apontam que apenas R$ 270 mil foram arcados diretamente pela prefeitura de Salvador.
Com isso, os outros R$ 19,8 milhões voltados ao pagamento do cachê das atrações contratadas para os festejos juninos em Salvador neste ano foram desembolsados pela gestão estadual. Contudo, o sistema não detalhou quem "bancou" os R$ 31,5 milhões desembolsados durante o São João do ano passado.
Fonte:BNEWS
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