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Lucas Fernandes de Sousa, de 31 anos e conhecido como “Japa”, foi alvo de uma invasão armada no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, após dar entrada na unidade com quatro perfurações no abdômen e outras lesões de raspão. Morador de Paciência, na Zona Oeste do Rio, ele já foi preso em 2019 por integrar a milícia da região, onde cobrava de comerciantes entre R$ 20 e R$ 80 semanalmente a título de “taxa de segurança”. Atualmente, cumpre liberdade condicional, segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap).

Em 2019, Japa, ex-praça do Exército Brasileiro, e um comparsa foram presos por extorsão e organização criminosa. De acordo com os depoimentos de policiais civis, ambos se separavam para agilizar a cobrança nos estabelecimentos da Rua Graça e Paz, em Paciência, e bairros vizinhos.

Na época, policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) flagraram os dois entrando em comércios para recolher pequenas quantias, entre eles o Bar do Botafogo e o Bar do Vasco, na localidade conhecida como Monte Sinai. Durante a abordagem, foram apreendidos R$ 1.102,02 em espécie.

Em depoimento, o delegado Fábio Freitas Salvadorretti que as extorsões eram feitas mediante grave ameaça, sem que os acusados comprassem qualquer produto nos comércios sob a justificativa de “taxa de segurança”.As quantias cobradas variavam entre R$ 20 e R$ 80 por estabelecimento, dependendo do porte do local, mas a soma apreendida indica que vários bares foram alvos no dia da operação.

Salvadorretti também explicou, em depoimento, que as ações nos estabelecimenbtos duravam cerca de três a cinco minutos devido a rondas armadas da milícia na noite anterior, quando homens fortemente armados intimidavam comerciantes e moradores para garantir o pagamento das taxas.

“Às vezes a ameaça vem antes e eles não precisam de arma para extorquir; basta falar que é da milícia, que já são conhecidos na área”, detalhou em depimento. Segundo ele, o esquema era estruturado, com aviso prévio sobre o dia em que dois integrantes iriam cobrar, garantindo que os pagamentos fossem feitos.

No dia em que foram presos em flagrante, os acusados tentaram justificar a presença conjunta nos locais, alegando trabalho como motoboys, mas os depoimentos foram conflitantes e não convenceram a Justiça.

Lucas ou Japa, segundo a investigação, além das extorsões conhecidas como “arrego”, também praticavam exploração de serviços irregulares de TV a cabo, a “gatonet”, transporte irregular e outras atividades ilícitas, incluindo jogos de azar e transporte público irregular.

A investigação aponta que a milícia à qual o paciente baleado pertencia era um grupo estável, estruturado e com divisão informal de tarefas, que expandia seu controle territorial por meio de violência armada, ameaças e intimidação. O grupo empregava armas de fogo, inclusive de grosso calibre, e buscava cooptar agentes públicos para manter seu poder.

Em primeira instância, Lucas Fernandes de Sousa foi condenado a 12 anos e 10 meses de reclusão, a serem cumpridos na Penitenciária Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio. No entanto, de acordo com o Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), após recurso da defesa à segunda instância, a 5ª Câmara Criminal reduziu a pena dos condenados e determinou o cumprimento em regime semiaberto.

A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) informou que Lucas Fernandes de Sousa deixou o Complexo de Gericinó, em 2021, para cumprir pena em regime de Prisão Albergue Domiciliar. Desde o dia 13/09/2021, Lucas estava sendo monitorado por tornozeleira eletrônica, que foi retirada em 20/07/2022, em razão da liberdade condicional.

Além do histórico militar, Lucas Fernandes de Sousa também tem uma empresa ativa em seu nome. A LF Fernandes Comercial Ltda, registrada em 2024, tem capital social de R$ 100 mil e está localizada em Paciência, bairro onde ele mora. A microempresa declara como atividade principal os serviços combinados para apoio a edifícios e reúne ainda atividades secundárias, que vão desde fabricação de móveis e artigos de serralheria até construção civil, manutenção elétrica, pintura de edifícios, comércio de vidros e até imunização e controle de pragas urbanas.

Pânico no hospital Pedro II

Homens armados e encapuzados invadem Hospital Pedro II — Foto: Reprodução

Na quarta-feira, às 13h10, Lucas Fernandes de Sousa deu entrada no Hospital Municipal Pedro II com quatro perfurações na região do abdômen após ser baleado e sofrer outras lesões de raspão em uma tentativa de homicídio.

Segundo o secretário de Segurança do Rio, Victor Santos, um policial militar de plantão comunicou o caso ao 27º BPM e solicitou reforço na unidade. Conforme o comandante da PM, coronel Marcelo de Menezes, a Polícia Militar também acionou a Polícia Civil sobre a entrada do homem ferido.

O secretário da Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, informou, durante a coletiva de imprensa, que a corporação constatou que o paciente tinha passagem pela polícia e chegou a ser preso em 2019 por extorsão. Ainda durante a coletiva de imprensa, o coronel Menezes, da PM, explicou que não foi possível colher o depoimento de Lucas, já que ele estava “sem condições de prestar qualquer tipo de esclarecimento” e precisou ser encaminhado ao centro cirúrgico.

Durante a madrugada, por volta das 2h40, oito homens encapuzados e armados com fuzis e pistolas, ligados à milícia, invadiram o hospital em busca do paciente. Eles renderam os seguranças e seguiram até o centro cirúrgico, acreditando que ele ainda estivesse em operação. No entanto, Lucas já havia sido transferido para a enfermaria.

— Existe um policial militar em cada unidade hospitalar do estado e do município exatamente para isso. Foi esse policial militar de plantão do Hospital Pedro II quem acionou a sala de operações do 27º Batalhão e propiciou que a equipe viesse reforçar a segurança — disse o secretário de Segurança, Victor Santos, durante coletiva de imprensa na tarde desta quinta-feira.

Milicianos armados e encapuzados invadem o Hospital Pedro II, em Santa Cruz — Foto: Reprodução
Milicianos armados e encapuzados invadem o Hospital Pedro II, em Santa Cruz — Foto: Reprodução

Até o momento, a Polícia Militar não esclareceu se uma equipe do 27ª batalhão chegou a permanecer no Pedro II entre a entrada do paciente, às 13h10 de quarta-feira, e a invasão, às 2h40 da quinta — um intervalo de cerca de 13 horas e meia. Já a Polícia Civil, em nota, afirmou que o paciente estava sem condições de prestar depoimento e que os agentes aguardam a alta médica para iniciar essa etapa da investigação.

A ação criminosa interrompeu o funcionamento da unidade e provocou momentos de pânico entre médicos, pacientes e funcionários. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, classificou o episódio como “uma situação que mostra total falência da política de segurança no Estado do Rio de Janeiro”.

Policiais da 36ª DP (Santa Cruz) informaram que trabalham para identificar os homens armados que invadiram o Hospital Pedro II, na madrugada desta quinta-feira, na Zona Oeste do Rio. Segundo as investigações, o grupo — aparentemente ligado a uma milícia — entrou na unidade pela garagem. Os criminosos chegaram a seguir até o centro cirúrgico em busca de um paciente que já havia sofrido uma tentativa de homicídio, mas ele havia sido transferido para a enfermaria e não foi localizado. 

Fonte:Extra