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Prejuízo dos Correios quintuplica e vai a R$ 2,64 bi no 2º trimestre

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A queda nas receitas e o aumento nas despesas, inclusive com sentenças judiciais, levaram os Correios a registrar um prejuízo de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025. O rombo é quase cinco vezes o resultado negativo verificado em igual período de 2024, quando ficou em R$ 553,2 milhões.

No primeiro semestre, o rombo alcançou R$ 4,37 bilhões, o triplo do prejuízo de R$ 1,35 bilhão observado em igual período de 2024.

O resultado expõe o agravamento da situação dos Correios, que já era de fragilidade financeira em meio a sucessivos prejuízos.

A companhia já alertou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que deve precisar de um aporte de recursos da União para evitar um furo no caixa. O aviso foi dado primeiro ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) e depois a outros integrantes do Executivo em reunião ocorrida em junho.

A equipe econômica já indicou que não há folga no Orçamento para fazer qualquer aporte nos Correios, uma vez que tal repasse ficaria dentro das regras fiscais, disputando espaço com outras despesas. No entanto, técnicos do governo reconhecem que a situação da empresa é delicada, e uma injeção de recursos pode se tornar inevitável.

As demonstrações financeiras foram divulgadas pela empresa na noite desta sexta-feira (5).

A grave situação financeira da estatal foi um dos motivos que levaram o presidente da companhia, Fabiano Silva dos Santos, a entregar sua carta de demissão no dia 4 de julho. Dois meses depois, no entanto, a saída ainda não foi formalizada, pois o governo não tem um substituto para o posto.

O cargo é alvo da cobiça de grupos políticos, como representantes do União Brasil e do próprio PT, a despeito dos desafios financeiros enfrentados pela empresa.

O resultado observado no segundo trimestre é ainda pior que o prejuízo de R$ 1,7 bilhão observado nos primeiros três meses do ano.

O desempenho reflete a deterioração financeira da companhia, que tem perdido receitas em ritmo veloz, ao mesmo tempo em que as despesas seguem crescendo.

No segundo trimestre, a receita bruta de vendas somou R$ 4,4 bilhões, queda nominal de 11,2% em relação a igual período de 2024. Embora o segmento de encomendas tenha se mantido relativamente estável, os serviços de postagem internacional, afetados pelo Remessa Conforme, exibem queda vertiginosa. Entre abril e junho, as receitas desse segmento somaram R$ 422,1 milhões, queda de 63,6% em relação ao segundo trimestre do ano passado.

O mesmo comportamento é observado no consolidado do primeiro semestre de 2025, quando a receita bruta de vendas e serviços somou R$ 8,52 bilhões, queda nominal de 11,3%. Os serviços de postagem internacional arrecadaram só R$ 815,2 milhões, um recuo de 61,3% na mesma base de comparação.

O Remessa Conforme é o programa da Receita Federal que facilita o desembaraço aduaneiro de mercadorias importadas via empresas de comércio eletrônico que aderem ao programa. Desde seu lançamento, os Correios deixaram de ser a porta de entrada de pequenas encomendas, o que impactou suas receitas.

A implementação da medida surtiu efeitos fiscais positivos para o governo, que passou a arrecadar mais com a chamada “taxa das blusinhas” ao extinguir a isenção sobre mercadorias de até US$ 50 adquiridas por pessoas físicas. No entanto, para os Correios, o saldo foi a perda repentina de receitas.

Pelo lado das despesas, houve aumento significativo no pagamento de passivos judiciais, os chamados precatórios. Só no segundo trimestre, a fatura chegou a R$ 1,2 bilhão, alta de 812,6% em relação a igual período do ano passado. No consolidado do semestre, o gasto ficou em R$ 1,59 bilhão, alta de 498,9%.

O gasto com pessoal também subiu e alcançou R$ 2,8 bilhões entre abril e junho de 2025, alta de 9,5% em relação a igual período do ano passado, quando a despesa ficou em R$ 2,6 bilhões. Segundo os Correios, o resultado é explicado pelo reajuste linear de 4,11% concedidos a mais de 55 mil empregados, conforme acordo coletivo firmado no ano passado, e pelo resgate da cláusula que prevê uma gratificação de 70% sobre as férias.

Neste segundo semestre de 2025, os trabalhadores dos Correios estão em campanha na tentativa de obter novo reajuste salarial, e algumas localidades já aprovaram paralisações. Dentro da empresa, porém, o sentimento é de que não há espaço para negociar reposição salarial neste momento.

Para tentar ajustar as contas, a companhia começou a vender imóveis e criou um PDV (programa de demissão voluntária), que teve a adesão de cerca de 3.500 funcionários e pode economizar cerca de R$ 1 bilhão em 2026, conforme cálculos internos. A empresa também tenta diversificar receitas, com o lançamento de um marketplace. Mesmo assim, queimou boa parte do seu caixa para honrar obrigações e agora tem recorrido a empréstimos para ganhar fôlego no curto prazo.

Só neste ano, os Correios já contrataram R$ 1,8 bilhão em novos financiamentos neste ano, junto a três instituições: Citibank, BTG Pactual e ABC Brasil. O empréstimo ajudou a melhorar o caixa da empresa, mas há preocupação com o pagamento dessa obrigação, que vence num futuro próximo. Embora o contrato ainda esteja em fase de carência, a negociação prevê a quitação do valor em seis parcelas mensais a partir de julho de 2026.

Hoje, a empresa não tem conseguido nem sequer manter em dia todos os pagamentos a fornecedores. Estimativas internas apontam um passivo de cerca de R$ 600 milhões em faturas em atraso.

Recentemente, os Correios inclusive represaram repasses de ICMS recolhido em nome dos estados sobre mercadorias importadas via Remessa Conforme. Em junho, a empresa afirmou em documento ter regularizado a situação.

No balanço divulgado nesta sexta, a empresa indica que o saldo de obrigações com fornecedores estava em R$ 2 bilhões no fim de junho de 2025, o dobro do valor verificado em igual período do ano passado (R$ 1 bilhão). No fim do ano passado, esse montante estava em R$ 1,26 bilhão. Nem tudo representa pagamentos em atraso, mas o crescimento indica que os Correios precisarão de um caixa robusto para honrar as obrigações que se avolumam.

Idiana Tomazelli/Folhapress

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