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| Ex-deputado TH Joias é acusado pelo MPF de ligação com o CV. Na foto, o dinheiro que seria do tráfico, que TH teria trocado por dólares — Foto: Divulgação/MPF |
As duas principais facções do tráfico do Rio são citadas em investigações recentes envolvendo políticos. Numa delas, o ex-deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, é suspeito de ligação com o Comando Vermelho. O caso respingou no presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), preso na semana passada, por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a acusação de ter vazado informações da operação que levou à prisão de TH, em setembro.
Em outro episódio, segundo fontes do GLOBO, o Ministério Público do Rio (MPRJ) apura se o deputado estadual Roosevelt Barreto Barcelos, o Val Ceasa (PRD), e o ex-vereador Ulisses Marins (União) teriam implicação no cancelamento de uma operação, em dezembro de 2023, para demolir o “resort” de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, chefe do TCP e um dos traficantes mais procurados do país. A área de lazer no Complexo de Israel, em Parada de Lucas, Zona Norte do Rio, foi destruída pela polícia em março.
‘Aliança mais densa’
A crônica da política fluminense é marcada por casos de corrupção e desvio de dinheiro público. Cinco governadores foram presos, e um, afastado do cargo. Outro patamar foi atingido em 2008, com a CPI das Milícias, na Alerj, que escancarou a ligação do crime organizado com a política. Agora, o foco se voltou para a promiscuidade entre facções do tráfico e agentes públicos.
— Houve a queda do arranjo do antigo PMDB, do ex-governador Sérgio Cabral, do Paulo Melo e do Jorge Picciani (os três presidiram a Alerj). Passou a existir uma relação mais íntima da extrema direita com a milícia e com as facções do tráfico. Agora, temos novidades tanto ideológica quanto na relação com o tráfico — destaca Josué Medeiros, professor do Departamento de Ciência Política da UFRJ).
Para o coordenador do Laboratório de Estudos sobre Política e Violência da Universidade Federal Fluminense (UFF), André Rodrigues, “a aliança entre crime e política se tornou mais densa”:
— Estamos vivendo um aprofundamento da aliança entre setores da política do Rio com o crime. O grau de penetração do crime nas estruturas do estado aumentou.
Na decisão que determinou a prisão de Bacellar, Moraes cita afirmação da Polícia Federal, destacando que “elementos reforçam a periculosidade da organização criminosa investigada, sua profunda infiltração no poder público fluminense e a absoluta necessidade de aprofundamento das investigações para a interrupção das atividades delitivas e para a escorreita elucidação dos fatos”. No texto, o ministro acentua que esses grupos têm “capacidade de corromper agentes públicos e políticos em escala”.
Desde setembro, foram feitas ao menos sete prisões de agentes públicos suspeitos de ligações com organizações criminosas — o que é negado por suas defesas. No mês passado, o vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti, foi preso acusado de fornecer material e apoio logístico para a construção de barricadas em áreas controladas pelo TCP.
Duas semanas antes de Aleixo, o vereador Marcos Henrique Matos de Aquino (Republicanos) — campeão de votos em São João de Meriti — foi detido durante operação contra a expansão do CV. Ele não era alvo da ação, mas policiais encontraram em seu carro uma arma registrada em nome de outra pessoa e caixas de medicamentos de uso controlado. Os agentes estavam atrás de Luiz Paulo Matos de Aquino, irmão do vereador, alvo de mandado de busca. O político pagou fiança e foi solto.
Numa outra operação da Polícia Civil e do MPRJ, em outubro, um PM e um assessor da Prefeitura de Petrópolis foram presos por suspeita de colaborarem com traficantes do Complexo da Maré e bandidos que agem na Serra. A investigação, que terminou com 54 pessoas denunciadas à Justiça, mostrou que Wando da Silva Costa, o Macumbinha, acusado de comandar o tráfico no Parque União, na Maré, chegou a pedir a Robson Esteves de Oliveira, funcionário da prefeitura petropolitana, que transferisse um policial atuante na repressão ao grupo criminoso.
Presidente da CPI das Milícias, Marcelo Freixo volta a 2008 e cita a diferença que havia entre tráfico e milícia:
— Todas as facções do tráfico nasciam no cárcere. A milícia nasce na relação da política com a periferia e com a polícia, com perfil de máfia. E já nasce elegendo gente. Teve a família Jerominho (os irmãos Jerominho, morto em 2022, e Natalino, que está preso, são apontados como fundadores da Liga da Justiça, a maior milícia do Rio). Depois, vieram o Girão (ex-vereador), o Deco (ex-suplente de vereador)... As facções ficavam com a economia do tráfico, e as milícias com o domínio dos outros negócios. Com o tempo, começou a ter tráfico na milícia, e o tráfico passou a organizar uma relação com os outros negócios.
O que ocorreu, prossegue ele, foi uma mutação:
— Em 2008, a milícia tinha braço político, mas a política não era dominada pela milícia. Tanto é que a Alerj me permite fazer a CPI das milícias, que leva 240 milicianos à prisão. Hoje, o que você tem é o crime dentro da representação política, os caras são eleitos por organizações criminosas. o que você tem é uma ascensão do crime.
Levantamento feito pelo GLOBO mostra que o Rio elegeu, em 2024, vereadores acusados de ligação com o tráfico ou com a milícia. Entre eles, a filha de Fernandinho Beira-Mar, um dos maiores traficantes do país. Fernanda Costa (MDB), reeleita vereadora em Caxias, na Baixada Fluminense, foi condenada a 4 anos e 10 meses de prisão por transmitir ordens recebidas de seu pai na cadeia. A decisão ocorreu em maio de 2023 e, como ela ainda recorre, pôde se candidatar. O gabinete da vereadora disse que não fala sobre o assunto.
Faixa: nomes de políticos
Quatro fontes de diferentes órgãos afirmaram que Val Ceasa e Ulisses Marins estariam envolvidos no cancelamento da primeira operação para derrubar o resort de Peixão. No muro do espaço, a polícia encontrou uma faixa de projeto social com os nomes dos dois políticos e da deputada federal Dani Cunha (União). Dani, contudo, não foi citada pelas fontes.
O MPRJ alegou que “eventuais investigações envolvendo agentes com prerrogativa de foro tramitam sob sigilo legal”. Mas, de acordo com os relatos, Val e Marins estiveram no 16º BPM (Olaria) para pedir que o imóvel não fosse derrubado, alegando que no local funcionava um projeto social. Marins não quis se pronunciar. Val negou ter ido ao batalhão fazer esse pedido.
Segundo André Rodrigues, o avanço da relação entre a política e as organizações criminosas decorre da permissividade das estruturas do estado. Para ele, a saída depende da atuação do Ministério Público, do Tribunal de Justiça e da Justiça Eleitoral do Rio:
— Esses órgãos precisam ser mais ativos. A Justiça Eleitoral tem um papel muito importante de, inclusive, barrar chapas que apresentem indícios de práticas criminais com fim eleitoral. Deve acompanhar com maior rigor candidaturas de agentes públicos das forças de segurança. Não é colocar em suspeição, a priori, qualquer candidatura de policial. Mas é importante entender se aquele policial tem vínculos com alguma organização miliciana ou até com o próprio tráfico.
Fonte;Extra o Globo
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