PM que comanda milícia da Baixada já foi acusado de fazer parte de grupo de extermínio

 

A DH fez uma força-tarefa contra milícias na semana passada
A DH fez uma força-tarefa contra milícias na semana passada Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

Uma das milícias mais antigas que atuam na Baixada Fluminense é comandada, segundo o Ministério Público (MP) estadual do Rio, por um policial militar da ativa. O sargento André Barbosa Cabral, atualmente lotado no 9º BPM (Rocha Miranda), é apontado pelas investigações como o chefe do grupo paramilitar do bairro do Valverde, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que atualmente trava uma das principais guerras contra a quadrilha de outro miliciano, Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko. A atuação de Cabral no crime já é antiga: o policial foi acusado, há mais de uma década, de fazer parte de um dos principais grupos de extermínio que atuavam na região.

Depois de quatro meses preso, Cabral foi solto no dia 13 de novembro, ao ser beneficiado por um habeas corpus no Tribunal de Justiça do Rio. Fontes da polícia e do MP temem que a volta do militar às ruas acirre ainda mais uma disputa por poder e territórios que vinha sendo travada entre o policial e a quadrilha de Ecko. Em outubro, o irmão de André Cabral, Domi

ngos Barbosa Cabral, foi assassinado no bairro Cabuçu, em Nova Iguaçu. Uma das linhas de investigação da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) é de que o crime tenha relação com a desavença.

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De acordo com a promotora Elisa Ramos Pittaro Neves, responsável pela denúncia contra o policial, há mais de dez anos André Cabral faz parte de grupos criminosos que atuam na Baixada. No fim dos anos 2000, o policial, à época cabo da PM, foi acusado de fazer parte do “Bonde do Jura”. O grupo de extermínio, que depois se tornou uma milícia, era comandado pelo sargento da PM Juracy Alves Prudêncio.

O EXTRA localizou um processo de 2009 no qual Cabral era acusado de formação de quadrilha junto com Juracy e outros acusados de integrar o “Bonde”. Ele acabou absolvido na ação. De acordo com a promotora, Cabral respondeu a outras ações, nas quais também acabou absolvido.

— Ele já faz parte desse grupo há mais de dez anos. Mas antes o grupo recebia (dinheiro) para matar. Depois, migrou para o recebimento de taxas, venda de água e de botijão de gás. Há também outros integrantes da família envolvidos na organização — afirma Elisa Pittaro.

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Morador do Valverde, Cabral é acusado de ser fundador do grupo militar que atua no bairro de Nova Iguaçu. De acordo com a denúncia do MP, o policial cobrava taxas de moradores e de comerciantes da região. Além disso, o PM é acusado de extorquir dinheiro de outros criminosos, inclusive de milicianos, utilizando nomes de policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco), especializada em investigar os grupos paramilitares, e do Grupo de Atuação Especial ao Crime Organizado (Gaeco) do MP.

Uma das vítimas do grupo relatou à polícia que Cabral e um comparsa, identificado como Paulo Alex de Oliveira Campos, exigiram que ele pagasse 50% de tudo que lucrava com serviços de internet. Em troca, prometia “aliviar” para que ele não fosse investigado.

Policial ficará em serviço administrativo

As desavenças do grupo de Cabral com o de Ecko, representado na Baixada por Danilo Dias Lima, o Tandera, começaram no ano passado. De acordo com as investigações, o PM foi obrigado a se associar ao grupo de Ecko com sua expansão para Nova Iguaçu. No acordo, o policial ficava apenas com um percentual daquilo que lucrava. Esse valor começou a desagradá-lo, e houve um rompimento do pacto.

— O Ecko, junto com o Tandera, vai se expandindo para a Baixada, e essas milícias que já existiam são praticamente obrigadas a se associar a eles. Quem não aceita a parceria é exterminado. Então esses grupos se aliam ao Ecko. Mas o Cabral começou a reclamar do valor que era recebido por ele. Achava muito pouco — explica a promotora Elisa Pittaro.

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O irmão de André, Domingos Cabral, que era candidato a vereador nas eleições municipais deste ano em Nova Iguaçu, foi morto no dia 10 de outubro quando estava num bar no município. Ele foi executado por criminosos de toucas ninja que efetuaram diversos tiros.

Antes de ser preso, André Cabral integrava o Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 9º BPM. Após ter sido solto, o policial permaneceu no batalhão. De acordo com a PM, o militar está de férias e será colocado no serviço administrativo quando retornar.

Questionada pelo EXTRA, a PM informou ainda que Cabral já foi submetido ao Conselho de Disciplina, acusado de integrar o grupo de extermínio, mas não foi comprovada sua atuação na quadrilha, e ele permaneceu nas fileiras da corporação. Com sua nova prisão, o PM foi submetido a um novo processo administrativo e poderá ser excluído da Polícia Militar.

Mais detalhes sobre o caso

Liberdade

Cabral foi preso em 2 de julho deste ano após ter sido denunciado pelos crimes de extorsão qualificada e associação criminosa. Ele ficou detido no Batalhão Especial Prisional da da Polícia Militar, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, até o último dia 13 de novembro, quando conseguiu um habeas corpus.

Habeas corpus

Cabral conseguiu uma liminar de habeas corpus pedida pelo seu advogado, Marcos Espínola, e concedida pelo desembargador Luiz Noronha Dantas, da 6ª Câmara Criminal. O pedido do PM ainda será julgado pelos outros magistrados da Câmara, que poderão manter a sua liberdade ou cassá-la, se entenderem que ele deve ficar preso. Noronha acolheu os argumentos da defesa de Cabral, que argumentou a inexistência de motivos que justifiquem sua manutenção na prisão.

Eleição

Cabral chegou a concorrer ao cargo de vereador em Nova Iguaçu em 2008 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), mas ficou apenas com a vaga de suplente.

Chefe

Juracy Alves Prudêncio, que foi acusado de chefiar o grupo do qual Cabral fazia parte, foi condenado a uma pena de 26 anos de prisão por crimes como associação criminosa e homicídio.

Campanha

Juracy também foi candidato a vereador em Nova Iguaçu em 2008, mas pelo Partido Republicano Progressista (PRP). Assim como Cabral, ele não conseguiu se eleger. De acordo com a s investigações da época, o ex-PM usou a estrutura da milícia para a campanha

Fonte:Extra o Globo

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