“O que beneficia o Lula ou o Bolsonaro é a divisão do centro”, diz Tasso Jereissati

 Tasso fez uma análise sobre a disputa presidencial de 2022 | Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil - Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

Ex-governador do Ceará e ex-presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati diz que faltam “união e desprendimento dos partidos do Centro” para se construir a unidade em torno de um único nome para a disputa presidencial de 2022. Para ele, o governador de São Paulo, João Dória, “tem condições de se viabilizar”, sobretudo, pela luta para tornar real a vacina coronavack. Segundo explicou, a divisão dos partidos e políticos do Centro só “beneficia o Lula e o Bolsonaro”. E completa: “Não acredito que um presidente que está tendo essa atuação na pandemia tenha chance de se reeleger“. Confira:

Como o senhor avalia essa decisão do Supremo que beneficiou o ex-presidente Lula?

Primeiro, eu colocaria alguns pontos dessa decisão do Fachin. A primeira é que, tendo uma longa vida na política e na vida institucional brasileira, eu tomo como princípio o seguinte: sempre respeitar a decisão da Justiça. Gostando ou não gostando da decisão da Justiça, temos que respeitá-la, porque é um dos pilares, se não for o grande pilar da nossa democracia. E hoje, mais do que nunca, nós temos que cuidar da nossa democracia e dos seus pilares. Segundo, do ponto de vista político, como consequência, eu não vejo com preocupação a questão do Lula. Eu tenho falado que, numa democracia, nós temos que estar dispostos a enfrentar todas as ideias e todas as ideologias. E, através do argumento do exemplo, competir com elas. De uma maneira transparente, de uma maneira clara. E o Lula é o porta-voz de uma dessas correntes. E, ao meu ver, ele em nada piora a disputa eleitoral para o centro. Por que eu digo isso? Porque a figura do Lula é mais emblemática numa eleição do ponto de vista de radicalismo de esquerda, do que ele colocando alguém do PT mais “light”. Não digo nem que o Lula seja radical, ele não tem essa imagem do radicalismo no imaginário popular. Então ele vai ser o radicalismo de esquerda e o radicalismo de direita do Bolsonaro. E aí eu tenho dito que abre-se uma enorme na avenida para o centro. E essa avenida está livre. Tem uma série de pessoas, de pré-candidatos disputando essa avenida. Agora a responsabilidade é só nossa, os políticos de centro desse país que, em vez de nos separarmos e dispersarmos em vários candidatos, a gente deveria fazer um acordo, ter um programa em cima de um projeto de Brasil e escolher aquele que tiver mais chances. Aí essa avenida está aberta.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou dessa lacuna de lideranças que permita evitar a polarização entre Lula e Bolsonaro. Faltam nomes ou faltam unidade e desprendimento de egos dos partidos e lideranças de centro, senador?

Eu estou mais com a sua segunda posição. Faltam união e desprendimento dos partidos do Centro. Essas são as duas palavras principais. No dia que nós tivermos isso, nós temos candidatos com todo o potencial para se sair muito bem.

A gente tem cinco nomes que estão tentando se viabilizar. Quem o senhor acredita que poderia encabeçar esse projeto de centro e conciliar os polos tão opostos do país?

Olha, eu considero que nós temos que juntar, pelo menos eu estou falando de candidaturas que estão postas como candidaturas e se declararam candidatos. Pegando da centro-esquerda à centro-direita: nós temos o Ciro, nós temos o Mandetta, nós temos o Doria, nós temos o Luciano Huck e o Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul. Acho que dentro desses nomes, se eles começarem se unir, conversar e articular, e podem aparecer outros também, nada impede. Na minha opinião, esse é o ponto. É preciso ter um programa em comum.

A chegada de Lula ao jogo político, ao recuperar os direitos políticos, acirra a polarização, beneficiando o atual presidente Bolsonaro. Como o senhor vê esse cenário?

Eu acho que não. A minha análise é a seguinte: o Lula vai representar a extrema-esquerda. E eu não acho nem que o Lula seja, ele, o Lula, extrema-esquerda. Tem nomes do PT mais ainda e nomes do PT mais moderados. Agora, ele vai representar a extrema-esquerda; o Bolsonaro, a extrema-direita. Você tem, no meio disso, uma rejeição a ambos de setores diferentes muito grande. Então eu acho que não beneficia o Lula. O que beneficia o Lula ou o Bolsonaro é a divisão do centro. Essa é a única coisa que vai beneficiar qualquer um dos dois e eu diria hoje, é difícil dizer entre os dois, mas com a pandemia e a tragédia que o Brasil está sofrendo, eu não acredito que um presidente que teve e está tendo essa atuação na pandemia tenha chance de se reeleger.

Como o senhor avalia a ação e atuação do presidente Bolsonaro na pandemia?

Antigamente eu chamava de desastrosa. Agora eu estou chamando de criminosa. Porque diante dos resultados do seu negacionismo, nós esperávamos que ele tivesse o bom senso, pelo menos, o suficiente, e a humanidade o suficiente para perceber que suas opiniões não estavam ajudando e suas ações estavam atrapalhando. Mas nada disso aconteceu. Pelo contrário. Está piorando cada vez mais. Hoje mesmo eu vi no noticiário uma série de declarações do presidente que atrapalham, prejudicam o esforço que os governadores da Bahia, do Ceará, de São Paulo, de todos os estados estão fazendo, e principalmente os profissionais da frente de saúde. E magoando, quer dizer, desrespeitando esses 270 mil mortos e suas famílias. Então é realmente uma coisa... eu diria, que tem um requinte de crueldade.

Essa semana o senhor se irritou com as declarações do ministro Pazuello sobre a falta de uma política clara do processo de vacinação no país. Esse é um cenário que preocupa, senador?

É. Não foi propriamente uma irritação pessoal. Foi uma indignação. Porque diante de tudo isso, a falta de coordenação, de planejamento e de senso de urgência diante do momento que nós estamos vivendo por parte do Ministério da Saúde não pode ser só incompetência. Veja bem, eu vou lhe dar um exemplo aqui que foi o que eu comentei no Plenário do Senado essa semana. No dia 4 de março, o secretário da saúde, se eu não me engano, o Coronel Élcio Franco, que é o braço direito do ministro, e entregou um cronograma de vacinação para que terminássemos as dúvidas e repassássemos aos governadores dos nossos estados qual era o cronograma de distribuição das doses  de vacina pelo ministro da saúde. Então ele entregou e no seu cronograma estavam previstas 38 milhões de doses para o mês de março. Para que não houvesse dúvidas, o presidente do Senado mandou um ofício ao Ministério da Saúde nessa semana pedindo a ele que confirmasse se aquelas informações e cronograma estavam mantidos. E nós recebemos ontem, na quinta-feira, um outro ofício respondendo que ele confirmava 38 milhões de doses para esse mês. No entanto, no mesmo dia, o ministro deu uma entrevista na televisão, dizendo que o cronograma prevê de 22 a 25 milhões de vacinas este mês. Então é de uma desfaçatez entregar isso oficialmente ao Senado, ofício do ministro da saúde, e no mesmo dia ele estar falando uma coisa diferente. Isso será uma incompetência? Não sei. Não sei como é que se chama isso.

Como o senhor tem visto o movimento dos governadores de pressão sobre o Governo Bolsonaro?

O mundo ideal, como estão fazendo os outros países, inclusive os Estados Unidos, ainda estamos distantes de viver. Mas diante dessa completa desorganização, falta de visão, falta de respeito pela dor das famílias e o não respeito à ciência, os governadores estão tomando um espaço que era para ser do presidente, e fazem muito bem. Porque eles e os prefeitos na ponta é que estão dando alguma resposta à população. Se não estaríamos sem nada, sem nenhum tipo de ação. E o presidente da República ainda ignora as suas responsabilidades e diz que o problema é dos governadores e que ele não tem nada a ver com isso. Ora, um presidente, um governador, um prefeito que não quer assumir responsabilidades suas, inerentes ao seu próprio cargo é porque não pode ser nem presidente, nem governador, nem prefeito.

O senhor tem encabeçado no Senado o movimento por uma CPI para investigar a atuação do presidente Bolsonaro ao longo de toda a pandemia. É chegada a hora de falarmos em impeachment, senador?

É, eu não defendo pessoalmente o impeachment. Eu defendo uma CPI por duas razões: a primeira é mais olhando o futuro do que o passado, porque nós estamos falando aqui vários exemplos de falta de coordenação, informações falsas enviadas ao Senado, informações desencontradas... Até hoje eu vejo na televisão as estatísticas de COVID, de casos, de óbitos, são dados por um consórcio de imprensa, porque o Ministério da Saúde não apresenta mais esse levantamento. Isso em si já é um absurdo. Mas que daqui para frente, nós possamos pelo menos através de uma CPI controlar e responsabilizar o presidente para que, não é para que ele ajude só não, mas pelo menos não atrapalhe. Uma declaração como aquela que ele fez hoje ele está atrapalhando, está desautorizando os governadores, está desautorizando prefeitos, está desautorizando médicos e servidores da saúde. E ele tem seguidores, nós não podemos negar isso. Fazendo com que desacreditem nas recomendações científicas que estão sendo dadas em todo o mundo. Por que qual é a diferença? Nós temos uma comissão no Senado de acompanhamento da COVID. Mas qual é a diferença? A diferença é que o ministro da saúde, por exemplo, foi lá nessa comissão e falou em 38 milhões de vacinas. Cinco dias depois, ele foi lá e confirmou e no mesmo dia na televisão ele falou em 22 a 25 milhões. O que eu quero dizer é que é diferente quando é numa CPI e numa comissão. Porque na CPI, você vai lá convocado e sob juramento. Qualquer informação como essa é considerada perjúrio que você vai ter que responder por ela. Então tem consequências. Você não pode soltar palavras, informações ao vento e ir embora e falar “não tenho nada a ver com isso” de uma maneira tão irresponsável. É nesse sentido que nós estamos apelando para que o presidente Pacheco coloque, implante uma CPI que já tem assinatura de 32 senadores.

Na primeira fase da pandemia, mais de 50 milhões de brasileiros tiveram acesso ao auxílio emergencial. Como o senhor vê a ajuda do Governo aos menos favorecidos e, inclusive, essa discussão sobre o auxílio?

Para ser justo, para fazer justiça, se tem uma coisa que funcionou na primeira fase da pandemia foi, sem dúvida nenhuma, o auxílio emergencial. Isso foi uma decisão tomada pelo presidente da República, pelo ministro da economia, com um suporte amplo do Congresso e funcionou muito bem. Graças a ela, nós não tivemos problemas sociais maiores durante a primeira fase. Nesta segunda fase, nós já estamos em março e não temos nenhuma iniciativa concreta. Tem a PEC emergencial, que está em votação, mas não temos nenhuma iniciativa concreta. Nós já estamos no fim do primeiro trimestre e o Governo ainda não se movimentou nessa direção. Está falho. Eu esperava que assim que ficasse clara essa tendência dessa segunda onda, que vinha com tanta rapidez, e que a primeira sinalização veio de Manaus, que o Governo fizesse uma medida provisória e desse uma extensão ao auxílio emergencial. Não. Não foi isso que aconteceu. Enfim, agora passou o auxílio e eu espero que ele venha aliviar essa questão que pode se tornar muito grave também, junto com a com a crise sanitária, se o Governo não recomeçar imediatamente o programa.

O que deveria ser feito para tentar minimamente salvaguardar empregos e auxiliar empresas e empresários que geram emprego e renda no Brasil?

É natural que a gente espere agora, nesse momento de crise, nesse pico da pandemia, que venha auxílio principalmente para as pequenas e médias empresas. E o Congresso, o Senado e a Câmara, têm atuado nesse sentido, como o Pronampe e vários outros projetos de lei que já foram aprovados. No entanto, eu sou mais otimista que você um pouquinho. Eu acho que no segundo semestre nós temos chance de retomar o crescimento da economia e, consequentemente, de empregos. E qual é a medida necessária? É vacina, vacina, vacina. Se nós conseguirmos terminar esse primeiro semestre com perto de 60% da nossa população adulta vacinada, aí nós teremos a grande possibilidade de retomar o crescimento.

O senhor foi autor da PEC Paralela da Previdência, que inclui estados e municípios no novo modelo previdenciário e foi relator da Reforma da Previdência aprovada no Congresso. Mais perdas ou mais ganhos na avaliação do senhor?

A Reforma da Previdência é um ganho, é um avanço enorme em termos de contas públicas. Esse ano mesmo já começamos a ter um benefício ao redor, se não me engano, de R$21 bilhões nas contas públicas, que como todos sabem, o Estado está quebrado. E seu endividamento crescendo e crescente. Se não fosse a Reforma da Previdência, talvez algum desses programas que nós fizemos de auxílio emergencial não pudessem ter sido feitos.

Senador, para finalizar, o senhor como ex-presidente do PSDB, acredita que o governador João Doria tem condição de se viabilizar, já que também há muita rejeição no entorno dele?

Claro que o Dória tem condições de se viabilizar. E vamos fazer justiça: se não fosse o Doria, a persistência do Doria, nós não teríamos vacinação nenhuma até hoje. Hoje, no dia 12, nós teríamos talvez vacinado 0,5% da população. Porque até agora, mês de março, só Butantan. Fevereiro foi 90% Butantan. Contra tudo e contra todos, principalmente contra o Governo Federal. Se dependesse do Governo Federal, nós não tínhamos ela, nem nenhuma. Então nós devemos, todos nós brasileiros, isso à persistência do governador Doria. Agora, daí nascer o candidato, tem muita água para rolar. Ele tem tudo para ser um candidato, mas tem muita água para rolar debaixo da ponte, e como eu disse, o principal é que a gente tenha, pelo menos, no mínimo, um portfólio de princípios. E houvesse a união de centro ao redor desse portfólio.

A Tarde

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