Aporofobia: quando a sociedade rejeita o mais pobre

 Algumas das principais aplicações da fobia nas grandes metrópoles - Arquivo Pessoal Padre Júlio Lancelloti

Quando você ouve alguém falar sobre fobia, você acredita que aquela sensação seja proveniente da repulsa ou do medo, não é? Seja ela qual for. Pois então, a Aporofobia é a aversão a gente de baixa renda, popularmente falando, de pobres. Etimologicamente a palavra vem de origem grega, à-poros (pobres) e fobos (medo), referindo-se exatamente ao medo e à rejeição aos pobres.

O termo foi criado há cerca de 20 anos, segundo a socióloga Cristina Souza, pela  filósofa espanhola Adela Cortina, escritora de Aporofobia, a aversão ao pobre: Um desafio para a democracia. O termo foi eleito a palavra do ano de 2017 e difundida atualmente por uma personalidade do mundo cristã no Brasil, o Padre Julio Lancellotti, que trabalha na Pastoral do Povo de Rua, na cidade de São Paulo. 

Para se entender melhor na prática do que realmente se trata essa aversão você pode conferir a hashtag #aporofobia nas redes sociais, e verá que  diariamente as pessoas vem difundindo fotos que mostram o ato no dia a dia das grandes cidades. 

Ela pode ser aplicada de diversas formas, desde uma propaganda ou manifesto que incentiva a negação de esmolas, até as grades rentes instaladas em imóveis comerciais nas ruas principais para que não haja abrigo durante a noite para as pessoas que tentarem se acomodar. Outro aspecto interessante é o caso de muitas prefeituras que transferem os moradores em situação de rua para outras cidades forçadamente, para que deixem de “poluir” as ruas da cidade natal.

Em diversas locais do país a aporofobia aparece, o uso de grades, lanças e muros para impedir a aproximação de moradores de rua de residências e estabelecimentos, segundo a socióloga é a forma prática do preconceito na sociedade.

“Uma vez vi uma grande loja de eletros daqui de Salvador instalar canaletas de pingar água, sabe para que? Para que as pessoas não pudessem se abrigar em dias de chuva, acredita? E tem muito mais por ai, bancos em forma de canos, gelos de cimento em locais indevidos, instalações rentes à parede, tudo isso é aporofobia viva no seio das principais metrópoles do país e os governantes não se importam, algumas cidades já iniciaram processos judiciais para coibir esse tipo de prática nas construções, mas o processo é lento e a injustiça continuará, é antropológico" afirma. 

Com a pandemia do novo Coronavírus, houve o aumento da pobreza na população e, consequentemente, o aumento do número de pessoas em situação de rua, trazendo assim ainda mais  rejeição à tona. Mas ainda existem pessoas que lutam contra isso, o Projeto Social Servir, além de combater esse tipo de prática, dá apoio na alimentação, vestimenta e na parte psicossocial destes moradores de rua. Ele foi criado fora de aspectos religiosos por um cantor gospel de Salvador, Rom Santos, ele junto aos integrantes vem  batalhando pelos que mais precisam e tentam diariamente proporcionar condições melhores de vida, apoio e manutenção dessa população  invisível e  por muitas vezes desassistida. 

“É uma iniciativa que vem de nós, quem ama obra social está aqui, estamos de portas abertas para quem quiser entrar. Independente de crença, religião ou algo é para quem quer servir. Damos o nosso melhor para que possamos receber o melhor também. Aporofobia se tornou algo devastador, saímos para entregar alimentos e nós percebemos a ação principalmente dos governantes para impedir a instalação da população em situação de rua. Temos que ter mais consciência humana, isso que falta”, comenta o músico. Para ajudar com doações para o projeto você pode acessar o Instagram Projeto Servir, ou entrar em contato pelo número 71 99250-2592. 

É de extrema necessidade e importância que o termo não seja difundido de maneira visceral, a aporofobia tem que parar assim como todos os outros tipos de preconceito que existem neste país, só assim teremos a premissa de uma sociedade capaz de ser justa, igualitária e saudável para todos nós.  

BNews

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