Apontado pela Polícia Civil e por promotores do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), como um dos chefes de uma milícia responsável por extorsões contra mototaxistas e comerciantes em Queimados, na Baixada Fluminense, João Carlos Lustosa da Costa, o João Jacutinga, é citado em seis processos que tramitam no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Quatro deles são referentes a investigações de homicídios. Segundo O MPRJ, Jacutinga não deixou de receber os lucros obtidos com os negócios irregulares do grupo paramilitar nem mesmo estando atrás das grades.
Ele foi preso em flagrante, no dia 12 de dezembro de 2023, por crime de porte ilegal de arma. Nesta terça-feira, quando ainda estava atrás das grades, teve uma nova prisão preventiva, que havia sido decretada pela Justiça, cumprida por policiais civis. Lustosa e outras quatro pessoas foram apontadas em uma denúncia do MPRJ como suspeitas de envolvimento em crimes de constituição de milícia privada e extorsão qualificada. Um extrato bancário, anexado a investigação, feita pela 55ªDP( Queimados) e pelo Gaeco, revela que um dos membros da quadrilha enviou para o chefe do bando a quantia de R$ 3 mil, em julho de 2024. Nesta época, ele já estava preso há seis meses. O dinheiro foi transferido para uma conta de uma pessoa ligada ao chefe do grupo paramilitar.
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Um dos assassinatos em que Joao Carlos é citado diz respeito a morte de um mototaxista. Segundo dados de processo que tramita no Tribunal do Júri de Queimados, Lucas da Silva Bastos foi morto a tiros no dia 7 de dezembro de 2023, por volta das 18h. De acordo com denúncia oferecida pelo MPRJ, João Carlos Lustosa da Costa estaria em um Fiat Uno quando fez os disparos que tiraram a vida de Lucas. O crime teria sido praticado porque a vítima não pagou taxas exigidas pela milícia para permitir que ela continuasse a trabalhar com sua moto em um dos bairros onde atua o grupo paramilitar.
Além dos casos de homicídio, João também é citado em outros dois processos, um por crime de porte ilegal de arma e outro por organização criminosa.
Nesta terça-feira, também foi preso o policial civil Flavio Cordeiro Candreva. Ele é suspeito de fornecer armas e dar cobertura a integrantes do grupo criminoso. Além dele e de Joao Carlos, Paulo Alberto de Lima, o Paulinho motorista, foi capturado na mesma operação. Ele é ex-funcionário da a Secretaria municipal de Assistência Social de Queimados e, segundo as investigações, usava o carro do Conselho Tutelar para transportar milicianos quando ainda trabalhava na pasta. Contra o chefe da quadrilha. Outras duas pessoas suspeitas de ligação com a milícia de Queimados estão foragidas.
A ação faz parte da Operação Mibius, deflagrada pela Polícia Civil do Rio em conjunto com o Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público estadual (Gaeco/MPRJ), com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ), além de equipes da 55ª DP (Queimados) e da 60ª DP (Campos Elíseos). Os investigados foram denunciados pelo Gaeco pelos crimes de constituição de milícia privada e extorsão qualificada.
Segundo o MPRJ, o policial civil alvo da operação teria fornecido armas ao grupo e tentado impedir a prisão de comparsas. Já o servidor municipal teria atuado como motorista dos criminosos, além de repassar informações e intermediar encontros entre os líderes da milícia. As investigações apontam que o grupo explorava os bairros de Fanchem, Porteira e Paraíso, onde extorquia dinheiro de comerciantes e mototaxistas. Sob ameaça armada, cobrava taxas de segurança e, em alguns casos, chegava a recolher as chaves das motocicletas como forma de coação. Para dar aparência de legalidade, os criminosos usavam a fachada de uma empresa chamada Mibius Segurança Privada, que distribuía cartões com contatos e chaves PIX para recolhimento do dinheiro.
Os mandados foram expedidos pela 3ª Vara Especializada em Organização Criminosa e a operação conta com apoio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
A Polícia Civil e o MPRJ chegaram até o grupo depois que policiais militares prenderam três milicianos em Queimados, no dia 10 de agosto de 2024. Na ocasião, os paramilitares estavam com um carro roubado, além de quatro pistolas, uma espingarda, munição, dinheiro de extorsões e telefones celulares. A partir da quebra de sigilo telefônico, decretada pela Justiça, os agentes identificaram as cinco pessoas que tiveram as prisões preventivas decretadas pela 3ª Vara Especializada em Organização Criminosa.
Procurada, a Prefeitura de Queimados afirmou em nota, que dá "total apoio ao Ministério Público e à Polícia Civil no enfrentamento à milícia em nosso município, e repudia qualquer conduta indevida por parte de agentes públicos". O texto destaca que "o governo municipal tem se dedicado intensamente a colaborar com as forças de segurança, buscando reduzir os índices de violência e combater de forma assertiva o crime organizado na cidade. Nesse contexto, colocamos à disposição das polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal e do Ministério Público a nossa Central de Monitoramento, que conta com 360 câmeras espalhadas por toda a cidade, incluindo tecnologias de reconhecimento de placas e facial".
Sobre o ex-servidor, a prefeitura esclareceu que ele foi exonerado em julho de 2024. "É importante destacar que, em 2024, o acusado se candidatou a vereador em uma chapa de oposição, o que reforça que não há qualquer relação entre ele e a prefeitura ou a atual gestão", informou a nota. "A Prefeitura de Queimados repudia veementemente as ações desse ex-funcionário e reafirma sua total disposição em colaborar com as autoridades nas investigações", frisou o texto.
Extra o Globo
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