Gakiya diz que plano para matá-lo era o mesmo que mirou ex-delegado-geral

Em coletiva à imprensa, na manhã desta sexta-feira (24/10), o promotor Lincoln Gakiya confirmou que o plano do Primeiro Comando da Capital (PCC) para atentar contra a sua vida também incluía como alvo o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes — executado em uma emboscada, no litoral paulista, no dia 15 de setembro.

Divulgação/Polícia Civil

“As informações de inteligência que eu tenho é que são o mesmo plano: havia um plano para matar o Ruy Ferraz Fontes, havia um plano para matar o doutor Gakiya, que sou eu, e o Roberto Medina. Esse plano já tem há anos, ele estava parado e voltou a correr. Tanto que o levantamento de rotina do doutor Ruy começou de junho para julho, na mesma época também que o meu e o do Medina”, disse durante a coletiva.

Gakiya também afirmou que o plano havia sido detectado pelas investigações e que alguns criminosos que estavam fazendo esse levantamento já estão presos. “Infelizmente, o doutor Ruy não teve a mesma sorte”, lamentou o promotor.

Levantamento da rotina

Investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), descobriram a existência de uma célula do PCC encarregada de realizar levantamentos detalhados da rotina de Gakiya e do coordenador de presídios Roberto Medina, além de seus familiares.

O promotor informou, durante a coletiva: “Nesse levantamento de rotina, no meu caso, havia prints de tela com mapas do trajeto que eu faço diariamente para o trabalho, do meu condomínio para o trabalho. E também do condomínio para a academia. Enfim, minha rotina”.

Operação do MPSP mira acusados de planejar matar Gakiya

Ao lado da Polícia Civil, o MPSP realizou, na manhã desta sexta-feira (24/10), uma operação contra integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) suspeitos de planejarem o assassinato do promotor Lincoln Gakiya e do coordenador de presídios Roberto Medina.

São cumpridos 25 mandados de busca e apreensão nas cidades de Presidente Prudente (11), Álvares Machado (6), Martinópolis (2), Pirapozinho (2), Presidente Venceslau (2), Presidente Bernardes (1) e Santo Anastácio (1), todas no interior de São Paulo.

As investigações apontaram a existência de uma célula do crime organizado estruturada de forma compartimentada e “altamente disciplinada”, encarregada de realizar levantamentos detalhados da rotina de autoridades públicas e de seus familiares, “com a clara finalidade de preparar atentados contra esses alvos previamente selecionados”, segundo o MPSP.

Os suspeitos haviam identificado, monitorado e mapeado os hábitos diários de autoridades. “A célula operava sob rígido esquema de compartimentação, no qual cada integrante desempenhava uma função específica, sem conhecer a totalidade do plano, o que dificultava a detecção da trama”, afirma a promotoria.

A Operação Recon, coordenada pelo MPSP e pela Polícia Civil, identificou os envolvidos na fase de reconhecimento e vigilância, bem como fez a apreensão de materiais e equipamentos que serão submetidos à perícia e, em última análise, poderão levar à descoberta dos responsáveis pela etapa de execução do atentado.

Sintonia dos 14

Em 2019, uma ordem de execução contra Ruy Ferraz – imposta pela Sintonia dos 14, uma célula criminosa da facção que atua como uma espécie de conselho deliberativo – foi interceptada pela polícia.

Segundo as investigações da época, a morte do então delegado-geral da Polícia Civil paulista, Ruy Ferraz Fontes, foi debatida em uma reunião, organizada na zona leste da capital paulista, em 10 de março de 2019.

A polícia apreendeu uma carta, assinada pela Sintonia Final do PCC, na qual a execução do ex-delegado-geral e de outros dois policiais civis foi determinada. O objetivo era claro: “Passar as ordens do alto comando da facção para organizar ataques a autoridades do Estado de São Paulo”.

A ordem para os atentados partiu de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso graças à ação de Ruy Ferraz Fontes, que também contribuiu para que o líder máximo da facção fosse transferido para um regime de cumprimento de pena mais duro no sistema prisional.

A carta de execução detalhava os alvos e os responsáveis pelas missões. O principal alvo, segundo as ordens, era o então delegado-geral de Polícia Ruy Ferraz Fontes. Ele ocupou o cargo durante a gestão de João Doria, entre 2019 e 2022.

Para executar a missão, a Sintonia Geral nomeou um grupo específico de “irmãos”. Os criminosos designados para matar Ruy Ferraz eram: Fernando Henrique dos Santos, o Koringa; Cleberson Paulo dos Santos, o Mimo; Jhonatan Alexandre Rodrigues, o Barata; Alan Donizeti dos Santos, o Terere; e Marcos Ferreira de Souza, o Corintiano.

A mensagem na carta era explícita: o não cumprimento da missão resultaria em “cobrança à altura, pagando com a própria vida” (veja íntegra abaixo).

O “salve” na íntegra*

“Viemos através desse SALVE passar direção referente os trampos que foram passados a nossos irmãos do quadro disciplinar e ainda não foram concluídos.

Em primeiro lugar deixar claro que toda as missões que foram passadas para nossos irmãos são de interesse da família e não de interesse individual.

A sintonia geral vem cobrando o resultado dos trampos passados para nossos irmãos da zona leste e ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul) contra os vermes que vem prejudicando o andamento dos trabalhos da família FM ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema).

Irmãos responsáveis: Lixo, Morto, Pita e Tito. Missão: Wagnão da DISE (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de São Bernardo do Campo.

Disciplina Cidade Tiradentes Irmãos responsáveis: Koringa, Mimo, Barata, Terere, Corintiano. Missão: delegado Ruy Ferraz Fontes.

Apoio dos 14 Irmão responsáveis: Oreia de Guaianazes, Jagunço Savoy, Irmão R, Casinha do Bonifácio. Missão: investigador Saulo do prédio.

Em cima dessa caminhada a sintonia deixa ciente que se não for concluída cada missão, a cobrança com nossos irmãos será a altura pagando com a própria vida.

Deixando claro que os interesses do comando estão à frente de qualquer outro.

Está determinado que seja feito de bate pronto esses trampos.

Um forte abraço a todos.

Seguiremos incansavelmente.
Sintonia Geral.”

*Fonte: MPSP

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