Bope chega aos 35 anos com nova imagem, após usar lições do ônibus 174 e se redefinir com o Tropa de Elite
NuCOE, criado em 1978, foi o embrião do Bope
Os últimos 13 anos, já em sua maioridade, no século 21, foram definidores do Bope. A primeira década do século foi de superações, em que a unidade precisou enfrentar provas de fogo, decepções, vitórias, ser escrutinada pela mídia e a sociedade e, por fim, reinventar-se. Antes instalada com certa precariedade no Batalhão de Choque , em 2000 o Bope ganhou sede própria no alto da favela Tavares Bastos, em Laranjeiras. Logo, as canções bradadas em coro durante exercícios assustavam os moradores do bucólico Parque Guinle, reduto vizinho de classe média-alta. “Homem de preto, qual é sua missão? Entrar pela favela e deixar corpo no chão!”
No novo quartel, a tropa cresceu, ganhou autonomia administrativa e de recursos. A unidade já consolidava sua mística de “Caveiras”. Para isso, contribuíam a roupa preta, o emblema e a fama de mortal eficiência nas incursões em favelas dominadas por traficantes.
O fracasso que ensinou
Sandro Nascimento mantém mulher refém no episódio do sequestro do Ônibus 174
Após horas de negociação frustrada, o sequestrador saiu do ônibus com a professora Geísa Gonçalves, 20 anos. Um soldado arremeteu para matá-lo, mas errou os dois tiros. Um acertou Geísa; o sequestrador disparou seu revólver e a matou. A segunda morte manchou ainda mais a ação – que virou documentário e filme. Dentro do camburão do Bope, a caminho para a prisão, PMs asfixiaram o sequestrador. O comandante caiu, a investigação terminou sem condenados, mas o caso permanece como uma mácula.
Bope adotou o Caveirão a partir de 2001, para proteger PMs em incursões em favelas
Com o 174, a unidade acordou para suas falhas, da mesma maneira que os EUA e a Alemanha perceberam a necessidade de ter forças especiais adestradas para situações críticas.
Evolução
Os “caveiras” passaram pela expiação pública. Estudaram os erros da ação e readaptaram procedimentos e doutrina. Perceberam a falta de treinamento adequado, equipamento e autonomia funcional para decidir tecnicamente uma situação de crise. A unidade se aperfeiçoou especialmente no resgate de reféns.
Bope faz apreensão de armas e drogas em favela do Rio
Diante da crônica e crescente crise de segurança no Estado, o Bope era requisitado de forma rotineira, em operações em favela. Sua atividade era quase diária, e o desempenho muito superior ao da tropa convencional. A mística de invencibilidade e a eficiência assustavam os criminosos, mas a sociedade ainda vinculava a unidade a violência, e o “fantasma” do 174 permanecia vivo.
Tropa de Elite e a "vitória sobre a morte", o renascimento simbólico
Wagner Moura, o capitão Nascimento em Tropa de Elite
Paradoxalmente, o filme seria o grande impulsionador do novo momento do Bope, tornando-o pop. A violência do protagonista, capitão Nascimento, não chocou a maior parte do público: ele passou a encarnar um herói popular, cujas falas e jargões eram repetidos nas ruas e até nos quartéis. A imagem de incorruptibilidade e eficiência colou no Bope – um segmento “puro” de uma PM estigmatizada pela corrupção.
Aos poucos, após o primeiro momento de postura defensiva, a unidade – mais que a corporação – soube capitalizar o prestígio a partir do filme. Os “caveiras” se tornaram super-heróis. Cresceu enormemente o interesse da mídia nacional e internacional por suas atividades e cursos de formação excruciantes. Todos queriam conhecer os homens de preto. Internamente, na corporação, o Bope se reafirmou como exemplo. Em seguida, passou a emprestar parte de seu prestígio para o resto da PM. O reconhecimento elevou o moral da tropa.
Bope ainda no Batalhão de Choque. O primeiro à esquerda é Pinheiro Neto, o último à direita é o atual comandante, Renê
Na gestão Sérgio Cabral, hábil no uso do marketing, a estratégia comunicacional deu certo. Depois de renascer após o malfadado 174 – a “vitória sobre a morte”, símbolo da unidade –, novamente o Bope, com maturidade, aproveitou um momento, a princípio negativo, e usou a superioridade relativa para se reinventar.
Grupo de Resgate e Retomada do Bope, aperfeiçoado após o 174
A tropa de elite era sempre convocada para as operações mais delicadas – Pan-Americano, grandes eventos e visitas de autoridades internacionais ao Rio. Convites de estágios para os integrantes surgiam de todo o mundo, e seus instrutores ministravam cursos de progressão em áreas de risco por todo o País.
O Bope ganhou uma equipe de comunicação própria, competente em projetar a imagem de eficiência e rejeitar a antiga, de truculência.
Bope pacificador
Bope assume o papel de pacificador, com as UPPs
A princípio, a unidade intervinha como sempre nas comunidades; diferentemente de antes, porém, passou também a manter o terreno. Com o sucesso das ocupações, o programa foi sendo elaborado enquanto acontecia, tendo a unidade como ponta-de-lança, até a implantação das UPPs.
Comandante Renê fala a comunidade ocupada
O futuro do Bope reflete o prestígio construído desde sua criação, mas reforçado no século 21. A unidade ganhará modernas instalações, no COE (Centro de Operações Especiais) , que reunirá as unidades de elite da PM, onde será a estrela máxima.
Ex-subcomandante do Bope, Silva recebe delegação polonesa
O Bope chega aos 35 anos com a imagem repaginada, tendo o próprio trabalho como marketing.
Bope passou a fazer ações de pacificação a partir das UPPs
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