Transformação em batalhão e novo foco em operações fizeram disparar o volume de entorpecentes recolhidos em dois anos. Cachorro 'Boss' foi ameaçado por tráfico
“Pega o marronzinho, pega o marronzinho!”,
disse um traficante da favela de Manguinhos a outro, pelo rádio.
Marronzinho é o labrador cor chocolate Boss, do BAC (Batalhão de Ações
com Cães, da Polícia Militar do Rio), e a ordem pretendia ser uma
sentença de morte, felizmente não cumprida. Aos 6 anos, Boss (Chefe, em
inglês) é, segundo os PMs, a “Ferrari” ou o “Romário” da unidade que, em
2012 bateu recorde e apreendeu 2,12 toneladas de drogas – em 2011,
tinham sido 917 kg, e 105 kg, em 2010. O labrador passou a ser ameaçado
depois que os cães encontraram 300kg de drogas em um dia
.
Cães apreenderam 300kg de drogas em Manguinhos
Nesse período, a até então Companhia Independente de Cães se tornou batalhão, ganhando autonomia e estrutura, e passou a se focar em operações – não mais em policiamento preventivo, explicou o comandante, tenente-coronel Nogueira, há dez anos na unidade.
Em seguida, o Estado-Maior Operacional incluiu o BAC no COE (Comando de Operações Especiais), para apoiar principalmente ações do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e do Batalhão de Choque em favelas. A unidade participou de todas as ações de pacificação de favelas e hoje quase todos os dias tem missão.
Apreensões se multiplicam por 20 em dois anos
Boss, ameaçado de morte, ao lado das placas de 35 kg de drogas que encontrou em mata
Por duas vezes, a última em agosto de 2012, o BAC venceu o prêmio da Secretaria de Segurança por superar indicador estratégico, na categoria unidades especializadas. “É impressionante: os cães entram no lugar e em um minuto já dão o sinal de que acharam a droga”, elogia o comandante do Choque, tenente-coronel Fábio Souza .
Hoje, tropa e cães ainda estão alojados no 16º Batalhão (Olaria), mas quando a futura sede do COE estiver pronta, provavelmente em 2014, o BAC terá área exclusiva e canil para 160 cães, o dobro do atual efetivo K-9 (pronuncia-se “canine”, canino, em inglês), 79. Serão comprados cães entre um e dois anos de idade, filhos de campeões de criadores reconhecidos na Europa, ao custo de cerca de 3 mil euros, cada. Na primeira leva, serão adquiridos 12 fêmeas e oito machos, que devem triplicar o número até a Copa do Mundo do Brasil, ano que vem.
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O cão deve ter características semelhantes às de um bom policial
Pastor malinois, raça versátil, ao lado de apreensão
Cada raça tem uma especialidade, embora quando se trata de cães, cada indivíduo tenha suas características próprias, explica o major Vitor Valle, subcomandante e na unidade há dez anos, desde tenente.
Em geral, os 79 cães são distribuídos da seguinte forma: Faro (armas, drogas, munição e explosivos) e Captura: labradores, pastores malinois e holandês; Controle de distúrbios: pastor alemão e rottweiller; Intervenção tática: pastor malinois; Busca de pessoas perdidas ou soterradas em áreas colapsadas: malinois e holandês.
Cão desce em helicóptero com PM do BAC em treinamento. Animal não pode ter fobias
Faro encontra droga a 7 metros de profundidade e em gruta
Além de ameaças – desde a fundação, em 1955, porém, nenhum cão foi morto ou ferido em combate –, os traficantes respondem a tanta eficiência com criatividade ao esconder as drogas.
PM do BAC entra em buraco para tirar droga encontrada por cão
A apreensão mais emblemática se deveu à teimosia dos cães, que insistiam em seguir para a mata, quando os PMs pretendiam vasculhar a área urbana de uma favela, em 2012. Após 15 minutos de caminhada aparentemente infrutífera, em terreno difícil, os cães entraram em uma gruta. “Chefe, chega aqui!”, chamou-o o primeiro soldado a entrar. Eram montes de placas de 35 kg cada com drogas, no total de cerca de 300kg.
Cães atletas
Labrador toma banho após chegar de ação em que BAC apreendeu 40kg
O subcomandante refuta o mito de que os cachorros são viciados para se tornarem eficientes. “Isso é lenda! Como conseguiria então farejar um cadáver, sangue explosivos, uma pessoa perdida? Seria viciado em tudo isso também? Faro é 100% memorização, e nós recompensamos o cão quando ele acha algo, seja com um pano, bola de tênis ou carinho. Ele não sente estar trabalhando, mas brincando. Essa parte psicológica é importante, manter o espírito lúdico, feliz, alegre”, explica Vitor.
A clínica veterinária tem centro cirúrgico, farmácia e seis oficiais veterinários, comandados pelo capitão Luis Renato Veríssimo, além de enfermeiros e auxiliares veterinários – todos os PMs também são socorristas. Há atendimento ambulatorial, procedimentos cirurgias, prevenção a infecções, verminoses e parasitas.
Cães do BAC atuam soltos em favelas
Quando o cão chega aos 8 anos, é doado, castrado. Na maioria das vezes, fica com algum PM da unidade. O comandante Nogueira, porém, que sempre adorou cachorros e criava dobermanns e huskies siberianos, ri ao revelar que hoje tem em casa um cão nada policial: um pequeno yorkshire, comprado por sua mulher.
Curso e falta de gratificação
Para o curso de formação de cinco semanas do BAC, que começaria esta segunda-feira (25), houve 105 inscritos. Passaram 44 nos exames preparatórios, mas só há 30 vagas – hoje são 141 na unidade. O treinamento habilita PMs a conduzir cães para emprego policial – para integrar o BAC, é preciso ter este ou o curso avançado, de 16 semanas, de adestramento.
Comandante do BAC, tenente-coronel Nogueira, na unidade desde 2003: 'orgulho de ser cachorreiro'
O BAC ministrou quatro edições do curso de faro
da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) para polícias de
todo o Brasil e recebe visitantes de países da América Latina e Europa.
“Os policiais franceses ficam impressionados com a quantidade de drogas
que apreendemos, porque lá as apreensões são de pequenas quantidade”,
disse o major Vitor.
Apesar da excelência de resultados e de
integrar o COE, os policiais do BAC são os únicos da elite da PM que
ainda não recebem a gratificação de unidade especial, como o Bope,
Choque, GAM e outras. Na sexta-feira, o assunto estava sendo tratado
pelo chefe do Estado-Maior Operacional da PM, coronel Pinheiro Neto, que
pede ao governo orçamento para acrescentar R$ 1 mil aos vencimentos dos
141 PMs da unidade.
Veja vídeo em que Boss, a "Ferrari" do BAC, busca arma em simulação no BAC:
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