O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), disse nesta sexta-feira (15) que o cancelamento dos vistos aos Estados Unidos de sua mulher e da filha de 10 anos é um ato covarde e sem relação com a parceria já extinta do programa Mais Médicos com Cuba.
Padilha afirmou que a sanção “tem a ver com tentativa de intimidar quem não baixa a cabeça para Trump, quem não bate continência para a bandeira dos Estados Unidos”.
“O clã Bolsonaro, que orquestra isso, tem de explicar qual risco uma criança de 10 anos pode ter ao governo americano”, disse ainda o ministro durante entrevista à GloboNews.
A medida foi tomada dois dias depois de o Departamento de Estado do governo Donald Trump cancelar o visto de funcionários que implementaram o programa Mais Médicos. Padilha havia sido incluído na lista. O ministro, porém, está com o visto vencido, por isso a medida não o atingiu.
“Estou absolutamente indignado com essa atitude covarde. Fiquei sabendo por mensagem de minha esposa”, disse o ministro à GloboNews.
Padilha afirmou que a família Bolsonaro montou um “escritório do lobby da traição” contra o Brasil nos Estados Unidos. Disse ainda que diversos países receberam médicos em parcerias com o governo cubano e não foram punidos, como a Itália, cuja primeira-ministra, Giorgia Meloni, é alinhada à ultradireita.
Os comunicados recebidos pela mulher e pela filha de Padilha dizem que “surgiram informações de que o senhor pode estar inelegível para o visto”. A informação foi antecipada pelo G1 e confirmada pelo jornal Folha de S.Paulo.
“Caso esteja atualmente fora dos Estados Unidos, a revogação do visto tem efeito imediato e o (a) senhor (a) não poderá viajar com o seu visto americano atual. Se estiver fisicamente presente nos Estados Unidos, a revogação do visto entrará em vigor imediatamente após a sua partida. Caso tenha intenção de viajar para os Estados Unidos, o (a) senhor (a) deverá solicitar um novo visto”, diz um dos textos recebidos por familiares do ministro.
Na quarta (13), o Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou que revogaria vistos de autoridades brasileiras e ex-funcionários da Opas (Organização Pan Americana de Saúde) que tivessem atuado na contratação de médicos cubanos no Mais Médicos.
A gestão Trump afirmou que havia revogado os vistos de Mozart Júlio Tabosa Sales e Alberto Kleiman. O Departamento de Estado disse que ambos “trabalharam no Ministério da Saúde do Brasil durante o programa Mais Médicos e desempenharam um papel no planejamento e na implementação do programa”.
Mozart é atualmente secretário de Atenção Especializada à Saúde e muito próximo de Padilha. Já Kleiman é coordenador-geral para COP30 da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), organização intergovernamental da qual fazem parte os governos de países que têm floresta amazônica em seus territórios.
O Mais Médicos foi implementado em 2013, durante o governo Dilma Rousseff, para levar médicos a áreas com carência de profissionais. À época, Padilha também era ministro da Saúde e os afetados nesta quarta pela decisão dos EUA trabalhavam com ele.
Antes da revogação dos vistos de pessoas ligadas à área da saúde, o governo dos Estados Unidos havia anunciado, no dia 18 de julho, a mesma medida para ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), dentre eles Alexandre de Moraes.
A punição ocorreu após o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ter feito um périplo por Washington em busca de punições ao ministro do Supremo nos últimos meses.
O anúncio do dia 18 de julho foi feito pelo secretário de Estado, Marco Rubio, em rede social. “Ordenei a revogação de visto para Moraes e seus aliados na corte, assim como para familiares diretos, imediatamente”, disse na ocasião.
Rubio associou a medida ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no STF. Ele é réu sob acusação de liderar uma tentativa de golpe de Estado em 2022 para impedir a posse do presidente Lula (PT).
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Folhapress
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