O lugar de fala de Wagner Moura sobre a Cultura na Bahia, por Raul Monteiro*

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O governador Jerônimo Rodrigues (PT) e os demais ex-gestores petistas precisam sopesar o que o ator Wagner Moura, hoje um astro internacional, premiado em Cannes e com provável indicação ao Oscar 2025, falou sobre a administração da Cultura na Bahia. De fato, ele não pessoalizou a crítica na figura do secretário Bruno Monteiro, mas não há como tirá-lo de uma cena em que se decida apurar as responsabilidades sobre as dificuldades que o setor atravessa hoje no Estado. Baiano, ator e produtor talentoso e muito bem sucedido, além de esquerdista, Wagner possui o que se chama de ‘lugar de fala’ para apontar o que acha certo e errado no segmento.

A bem da verdade, os governos petistas não tiveram apenas um secretário de Cultura problemático. Um deles chegou a ser apelidado de “Macbeth de província” pela escritora baiana Aninha Franco, revoltada com o deslumbramento e a tirania em que se enredou na posição de titular da pasta. Houve, naturalmente, erros e acertos durante a passagem de todos eles pela Cultura, mas nenhum cometeu os desatinos de que a classe artística acusa Monteiro nem buscou consolidar sua posição com o atributo único de parecer ‘fofinho’ aos poderosos com o objetivo de obter proteção para permanecer no cargo.

Diante dos equívocos da gestão atual, da inação da pasta em vários sentidos, das críticas que passaram a lhe dirigir e da insensibilidade da liderança governamental para exigir que corrigisse o rumo e, no caso de se mostrar incapaz de conduzir os ajustes, substituí-lo, muitos resignaram-se sem esperanças. Mas o mal macbethiano não parou de produzir suas vítimas, algumas fatais, situação que o brilhante Moura reacende agora ao lamentar a falta de incentivos aos artistas baianos, recorrendo, inclusive, a título de exemplo, ao clima de efervescência que marcou o período em que ACM comandou o Estado, muito posterior, diga-se, aos anos áureos do eterno reitor Edgard Santos, que lançou as bases para a consolidação da Bahia como celeiro das artes no país.

Não há referência mais desestabilizadora para um petista do que aquela que reconhece o legado de um adversário, ainda mais o de uma figura controversa como o ex-governador, cujo perfil autoritário o afastou do panteão dos grandes líderes. “A cena cultural não só na Bahia, como em qualquer lugar, depende de incentivos públicos. E eu acho que isso não tá acontecendo e lamento que não esteja acontecendo nos seguidos governos do PT na Bahia. Eu existo como artista porque vivi uma época de ebulição do teatro baiano, quando pude ver grandes nomes em seu potencial mais alto”, afirmou o grande ator.

Assim, vocalizou uma indignação que os artistas baianos cansaram de expressar – ante a falta de providências -, passando a impressão de que os problemas foram resolvidos, o que não é verdade. Monteiro é fruto de um equívoco atrás do outro no processo sempre difícil de montagem de um governo, aprofundado pela peculiaridade da composição na Bahia, marcada pelo choque de três cabeças. Queriam-no inicialmente na Comunicação, para a qual sofreu um veto que o empurrou inadvertidamente para a Cultura mesmo não tendo respaldo intelectual, conhecimento e intimidade com a área. Suas entrevistas, sempre à guisa de auto-justificação, são um deboche. As consequências, lamentáveis, estão aí, expostas agora para o mundo. Um vexame!

 Artigo do editor Raul Monteiro publicado na Tribuna de hoje.

Fonte:Politica Livre por Raul Monteiro

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