já faz parte do senso comum a informação de que idosos e pessoas com comorbidades inspiram maiores cuidados quando o assunto é o novo coronavírus. Existe, no entanto, outro grupo de pacientes que, apesar de não fazer parte da faixa de risco, também preocupa. É que em crianças e adolescentes a covid-19 pode evoluir para a chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SMIP), que apresenta sintomas mais sérios, podendo levar ao óbito.Na Bahia, entre agosto e outubro, o número de casos confirmados subiu 150%, de 14 para 35. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), neste período, foram registradas 53 notificações para a síndrome, que pode atingir pacientes de 0 a 19 anos, sendo confirmados 35 casos e duas mortes. Nessa faixa etária, foram hospitalizadas 410 crianças e adolescentes em todo estado - 46 evoluíram para óbito.
Apesar de representar apenas 8,5% das internações infantis baianas, os casos de SIMP preocupam porque costumam, segundo os médicos, levar os pacientes à internação em UTIs com mais frequência. Na Bahia, são apenas 39 leitos de enfermaria e 31 de UTI voltados para pediatria de covid.
Nesta   quarta-feira, a ocupação pediátrica dos 
leitos chegou a 49% para as enfermarias e 74% para as UTIs, com 19 e 23 
leitos ocupados, respectivamente. Os números acendem o alerta da Sesab, 
que garante que a situação é preocupante. A pasta tem recomendado, 
principalmente, a suspensão das aulas presenciais. 
Em Salvador, segundo o monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde, são 27 leitos de UTI e 27 clínicos reservados à pediatria. Na tarde desta quarta-feira, estavam ocupados 20 e 16, respectivamente, o que leva a taxa de ocupação para 74% nas UTIs e 59% nas enfermarias. A SMS foi procurada pelo CORREIO para dizer das ações voltadas ao combate direto da Covid em crianças e adolescentes, mas não respondeu às questões até o fechamento desta edição.
Sobre o assunto, o prefeito ACM demonstrou preocupação e afirmou estar avaliando com sua equipe as razões do aumento para decidir que medidas serão tomadas daqui para frente em Salvador. “Todo movimento de aumento de casos representa um alerta para a prefeitura. Houve esse movimento que nos chamou a atenção e vamos aguardar pra ver se o aumento é momentâneo ou se é algo permanente. Mas é claro que tudo isso tem influência direta nas conversas para o retorno às aulas”, declarou.Para acontecer, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica precisa estar associada a um quadro anterior de infecção pelo novo coronavírus. “Existe um desequilíbrio entre a resposta imune e a inflamação do corpo, é como se ficasse desenfreada essa resposta imune. Até então, para a síndrome ocorrer, um dos critérios é a infecção prévia pela covid-19”, explica Anne Galastri, infectopediatra do Departamento de Infectologia Pediátrica da Sociedade Baiana de Pediatria.

Pós-covid
 A especialista 
detalha, ainda, que nos casos da SIMP o paciente chega a apresentar 
melhora do quadro comum da covid para só depois surgirem sintomas da 
síndrome,  como febre alta e persistente, lesões pelo corpo, 
conjuntivite, edemas, podendo evoluir para taquicardia e até inflamações
 no coração ou questões renais. “De um modo geral, são dias de sintomas 
em uma piora que é progressiva e de forma mais geral. Não é súbito”, 
explica a médica. 
Em 20 de maio, o Ministério da Saúde emitiu um alerta, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com o objetivo de chamar a atenção da comunidade pediátrica para a identificação precoce da SIM-P no país e orientar quanto ao manejo clínico dos casos.
Pais  precisam prestar  atenção nos sintomas
 Os pais de crianças e adolescentes devem se atentar a mudanças no 
comportamento dos filhos para que estes sejam tratados rapidamente. A 
médica Anne Galastri recomenda que os responsáveis mantenham  contato 
direto com o pediatra que acompanha seu filho e sempre prestem atenção 
nos sinais de gravidade.Entre os sintomas para a ida ao hospital estão  dificuldade para 
respirar,  prostração,  ocorrência de convulsão,  desidratação e grandes
 períodos sem se alimentar ou urinar”, aponta. Em caso de não tratamento
 ou atenção incorreta, a doença pode evoluir para o óbito. “O paciente 
precisa receber medicações para bloquear essas inflamações no corpo 
todo. Existem tratamentos com imunoglobulina, anticoagulante, 
corticoterapia, por exemplo. É importante que a criança seja atendida em
 um hospital capaz de dar  suporte necessário para o caso,  com a 
disponibilidade de um UTI. Muitas vezes, ocorre alteração em vários 
órgãos, o que faz ser necessária a intubação”, completa.
A síndrome foi relatada pela primeira vez em Londres, onde os profissionais de saúde notaram aumento nos quadros de Síndrome de Kawasaki com correlação com a infecção pelo coronavírus. Para que o paciente entre nos parâmetros da nova síndrome é preciso, segundo os critérios do Ministério da Saúde, que esteja na faixa etária entre 0 e 19 anos e, esteja internado com a presença de febre elevada, de, no mínimo, 38ºC, e persistente a partir de três dias.
A criança e o adolescente com suspeita da doença 
ainda tem que apresentar, pelo menos, dois dos seguintes sintomas: 
conjuntivite não purulenta, erupção cutânea bilateral ou sinais de 
inflamação mucocutânea; hipotensão arterial ou choque; disfunção 
miocárdica, pericardite, valvulite ou anormalidades coronárias; 
evidência de coagulopatia; manifestações gastrointestinais agudas, como 
vômito, diarreia ou dor abdominal. Para caracterizar o quadro da SMIP, ainda deve ser analisada a 
existência de marcadores de inflamação elevados. A criança deve ter 
teste positivo para o coronavírus ou históricos de contatos com 
contaminados. Também deve ser afastado o diagnóstico de outras causas de
 origem infecciosas que geram inflamação.Fonte Correio da Bahia
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