As Forças de Defesa de Israel avaliam que o programa nuclear e de mísseis do Irã foi adiado, não destruído, e que a guerra contra a teocracia não acaba com o cessar-fogo que entrou em vigor nesta terça (24). Mas o foco agora volta a ser o “colapso do Hamas” na Faixa de Gaza.
A avaliação foi feita pelo principal militar do país, o chefe do Estado-Maior Eyal Zamir. Ele se encontrou com os integrantes do colegiado para fazer uma avaliação dos 12 dias da campanha iniciada pelo governo de Binyamin Netanyahu contra Teerã.
“Um capítulo significativo terminou, mas a campanha contra o Irã não acabou. Adiamos o projeto nuclear do Irã em anos, bem como seu projeto de mísseis, mas, apesar da conquista fenomenal, precisamos permanecer em campo. Não há tempo para descansar sobre os louros”, afirmou.
A fala vai em oposição à propaganda de Donald Trump, que entrou e saiu rapidamente do conflito ao atacar três centrais nucleares do Irã no sábado (21) e considerar a aceitável a retaliação simbólica do rival na segunda (23), quando lançou mísseis sobre uma base americana no Qatar sem efeitos.
Visando posar de vencedor, o americano diz desde o sábado que obliterou o programa dos aiatolás, motivo principal do ataque de Israel, que via no impasse nas conversas entre Washington e Teerã um estímulo para a teocracia perseguir a bomba.
Isso pode agora acontecer até mais rapidamente, dado que 400 kg de urânio enriquecido a 60%, nível próximo do necessário para a bomba, estão intactos com os iranianos.
Seja como for, o general indicou que Israel vai aproveitar o momento de fraqueza militar do Irã, bastante castigado na campanha aérea do Estado judeu, para tentar pressionar o Hamas a se render. “Agora o foco retorna a Gaza, ao retorno dos sequestrado e ao colapso do regime do Hamas”, disse.
São palavras diretas e que ensejam mais violência no território arruinado pela guerra disparada após os terroristas palestinos, apoiados por Teerã, matarem 1.200 pessoas e sequestrarem 255 em 7 de outubro de 2023.
Não que a guerra lá tenha cessado. Nesta mesma terça, ataques com drones e infantaria atingiu dois grupos de palestinos que buscavam ajuda humanitária, um episódio que Israel está analisando. Segundo o Hamas, 44 pessoas morreram, se somando aos mais de 56 mil caídos em Gaza no conflito.
Esse número é contestado por Israel, que vê manipulação e a soma de civis com combatentes esses seriam aproximadamente a metade do contingente ao todo. Sobre o que não há dúvida é acerca da crise humanitária, com os cerca de 2 milhões de moradores da região vagando entre ruínas.
A ONU estima em mais de 90% o número de prédios destruídos na faixa. Para piorar, desde o colapso do cessar-fogo pedido por Trump no começo do ano, Israel aplica um bloqueio sistemático sobre o território, alegando que o Hamas desviava ajuda e alimentos. Pingando o auxílio de forma que órgãos internacionais consideram insuficiente, a fome grassa.
Para Netanyahu, o foco em Gaza traz o risco de quebrar o bom momento
político de sua vitória militar na batalha com o Irã, mas é algo
inadiável também. Há ainda 50 reféns com o Hamas, 28 dos quais mortos
com certeza.
O trauma nacional desse cativeiro tem cindido ainda mais a sociedade
israelense, que responsabiliza o premiê antes de tudo pelo fracasso de
segurança que levou ao 7 de Outubro.
Isso dito, ultradireitistas do gabinete de Netanyahu chegam a dizer que a tragédia salvou o país, dado que a partir dela a força foi empregada sem freio contra o Hamas, contra o Hezbollah libanês e, agora de forma mais calculada, contra o Irã.
O problema para o premiê é que essa sua base quer mais, e descarta acordos com o Hamas, o que coloca em risco de perder sustentação parlamentar e o cargo. Processado sob acusação de corrupção, Netanyahu tem protelado o encontro com a Justiça, o que faz críticos dizerem que isso está no coração de sua política militarista.
Igor Gielow / Folhapress
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